Um horizonte de tempos difíceis

Entre 2002 e 2013, o Brasil expandiu seu produto interno bruto em 25%, metade do índice obtido pelos emergentes, excluindo a China. Depois de 2013, fomos submetidos à maior recessão da história, enquanto o planeta ainda crescia a taxas de 3.0% ao ano. Os bons tempos em que surfávamos a onda da bonança global acabaram.

A verdade é que mesmo durante o suposto período de melhoria do bem estar da era Lula, ficamos para trás comparativamente ao resto do planeta, situação que tornou-se catastrófica no governo Dilma. Infelizmente, o Brasil costuma ater-se a análises superficiais e ignorar comparações detalhadas com o mundo que nos cerca, olhamos para o próprio umbigo, como se o país vivesse em uma bolha. E ainda há quem tenha saudade dos ‘profícuos’ tempos do Jararaca, quando desperdiçamos uma oportunidade histórica de dar um verdadeiro salto de qualidade em termos de desenvolvimento. Nesse quesito, não há chance de melhorar durante o governo tampão de Michel Temer, que administra uma desgraçada herança maldita construída com muita incompetência pelo petismo em meio a uma gestão lotada de investigados por crimes de corrupção e instabilidade política. O quadro comparativo entre Brasil e o mundo ao final do período 2002-2018 será vexatório, um outro 7×1 na economia, e pouco divulgado na grande mídia.

Mas o que esperar de 2019 em diante?

O contexto internacional estará muito mais complicado. O preço das commodities caiu e dificilmente voltará a ser o que foi nos tempos de China crescendo a dois dígitos. Hoje, o gigante asiático evolui a uma taxa que converge para 6% ao ano, e ficará por aí. Essa situação dificulta a vida das economias fortemente embasadas em commodities, entre elas, o Brasil.

A tendência de uma taxa de juros mais alta nos EUA para acomodar investimentos em infra-estrutura e uma política de moderada expansão fiscal, prometida por Donald Trump em campanha, deve concentrar mais investimentos na América do Norte e diminuir o fluxo de recursos destinados aos emergentes. O dólar tende a se apreciar e tornará a peleja contra a inflação mais complexa.

Paralelamente, há uma obsessão global pela automação visando ganhos de produtividade, essencial em um mundo de crescimento mais baixo. A robotização é uma tendência definitiva. Nesse quesito, o Brasil é uma tartaruguinha teimosa no meio de coelhos e leopardos. Nossa produtividade cresceu 0.9% ao ano de 1996 a 2015, um nada, e o debate sobre o assunto é rarefeito. Com um nível educacional baixo, burocracia infernal, mão de obra pouco qualificada e uma sociedade ainda magnetizada por discussões como terceirização, CLT e manutenção de direitos a uma casta privilegiada, não temos agenda cujo objetivo seja elevar nossa produtividade. Pelo contrário, políticas que atrapalham são normalmente vistas com bons olhos pela maioria. Também não podemos nos esquecer das limitações que freavam nossa capacidade de crescimento há 8 anos: faltavam profissionais em áreas críticas, notadamente nas ciências exatas e havia escassez de energia. Nada mudou de lá para cá, a retração da economia é que nos privou de falarmos sobre os mesmos problemas, não resolvidos.

Sem os ventos favoráveis que sopraram na década passada e um estado grande e ineficiente atrapalhando, os caminhos serão repletos de dificuldades. O risco do Brasil se acomodar em uma taxa medíocre de crescimento entre 2-3%, inferior ao ritmo global, é alto. Para fazer mais que isso, é necessária uma profunda agenda reformista em várias frentes, que possa destravar as amarras de contenção espalhadas em diversos aspectos da vida cotidiana de cidadãos e empresas.

Quem lideraria tal agenda? Eis um desafio dos bons, o brasileiro adora um discursinho populista e superficial de salvador da pátria. Falta-nos um estadista, que não costuma ganhar eleições, e sobra-nos a vocação para dar ouvidos à conversa fiada. Até o final de 2018, é possível que haja uma ou outra reforma estrutural que melhore a nossa capenga competitividade, mas seria muito otimismo pensar que um governo frágil como o atual consiga grandes transformações, por maior que seja sua boa vontade. O tempo é curto, uma vez que 2018 é ano eleitoral. E o futuro seguirá nos proporcionando tempos difíceis…

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