Quis o destino que os ocupantes dos principais cargos do poder executivo brasileiro fossem reeleitos para administrar as consequências de suas escolhas em seus segundos mandatos, que nem começaram e já denotam o prenúncio de tempos difíceis. Tanto Dilma Roussef quanto Geraldo Alckmin devem se preparar psicologicamente para a colheita…de espinhos.
No âmbito federal, é sabido que o Brasil pintado na propaganda eleitoral governista é uma obra de ficção do marqueteiro João Santana. A realidade que sobe a rampa do Planalto é um país de crescimento raquítico, inflação no topo da meta, taxas de juros entre as maiores do planeta e com viés de alta, contas públicas deterioradas, rombo no tesouro, setor industrial decadente, elétrico em sérios apuros e com a sua maior e mais importante estatal sangrando sob suspeição em torno de um esquema de corrupção que pode fazer história. Como cereja do bolo, a declinante credibilidade no cenário internacional, que enxerga hoje em vizinhos latino-americanos uma situação muito mais estável e confiável. A solução para esse imbróglio não virá com maquiagem de números ou medidas improvisadas e de alcance limitado, lugar comum dos últimos quatro anos. A presidente terá que cortar na carne e optar por ajustes duros, contrários a tudo que pregou em campanha, se quiser salvar a segunda metade do seu novo mandato, pois o primeiro biênio não será para amadores.
Dilma não herdou de seu mentor e antecessor um país em situação delicada. Em que pese o fato de alguns ajustes de rota fossem necessários à época, suas próprias escolhas nos trouxeram até aqui. O Brasil não estava fadado ao crescimento pífio, consequência da aposta em um modelo que se esgotou e que se intensificado poderá comprometer também o nível de emprego e renda, últimos baluartes de uma economia que definha.
No âmbito estadual, não se pode atribuir ao governo de plantão a responsabilidade pela maior seca em oito décadas, mas certamente é justa a sua culpabilidade pela falta de planejamento para enfrentá-la. As fragilidades do sistema de abastecimento paulistas já eram bastante conhecidas e os planos para conexão dos diversos reservatórios foram negligenciados em detrimento de outras prioridades; afinal, melhorar o sistema de abastecimento não rende um mísero voto. Trata-se de serviço valorizado somente em situações de crise, mas é obrigação da administração pública fazer o melhor possível para evitá-las. Diminuir o desperdício, por exemplo, seria uma alternativa plausível e economicamente viável, mas a Sabesp pouco fez nas últimas duas décadas para reduzir o índice de evasão de água próximo dos 35%, um dos piores do mundo. E agora? Se não chover, estaremos todos fritos. Ou melhor, secos.
Qualquer solução de longo prazo será mais cara e insuficiente para resolver o problema nos próximos meses. O mais instigante é que apesar do calor insuportável, não chove. Os tradicionais dilúvios paulistanos desapareceram. São Pedro definitivamente cansou dos tucanos. O desgaste de um racionamento mais intenso ( ele já ocorre de maneira camuflada em várias regiões do estado) terá efeitos importantes à popularidade do governo estadual e abaterá qualquer pretensão de voo do tucanato paulista à próxima sucessão presidencial.
Dilma e Alckmin expiarão seus erros nos próximos quatro anos. Será um tempo de colheita longa, sofrida. Quase uma agonia. Seus opositores terão o privilégio de assistir a tudo em um camarote lançador de pedras. Ao final, o fruto que desejavam ter colhido esse ano, cairá de maduro em 2018.
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Victor Loyola
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1 comentário
Márcia
2 de novembro de 2014 em 21:53São Pedro não cansou definitivamente só dos tucanos….a seca caminha a passos largos e rápidos!