´Domingo Maior´

domingo maior 2

Em seus dias competitivos, cada vez mais distantes da minha memória, quando o Vascão perdia um jogo importante eu fazia questão de não assistir a nenhum programa esportivo na TV. O contrário era verdadeiro. Dependendo do resultado das urnas no Domingo, estarei isolado do planeta, curtindo de cabeça inchada minhas próprias reflexões. Ou celebrando, conectado com o mundo.

A analogia ao futebol é apenas figurativa, o que está em jogo nesse Domingo é bem mais importante que um mero jogo de bola. Não me considero um radical e pauto minhas decisões pela racionalidade, mas meu envolvimento com esse processo eleitoral transcendeu a razão. Em nenhuma das seis eleições anteriores eu me enxerguei tão aborrecido com uma possível frustração, ou tão contente em caso de expectativa atingida.

Eu sou um coxinha. Esse é o apelido que o petismo dá a quem discorda de suas posições. Mas ao contrário do rótulo que insistem em nos atribuir, minhas preocupações sociais são no mínimo iguais às de qualquer petista radical. O PT não detém o monopólio da preocupação com os mais pobres, ao contrário do que seu raivoso ex-presidente tenta disseminar por aí. Também não tenho nenhum compromisso em votar nos tucanos. Aliás, estivesse o PSDB no papel do PT, encontraria neste que lhes escreve o mesmo rigor oposicionista.

Faço parte das ´zelites´, essa entidade satânica criada pelo petismo, um vácuo conceitual, pois todos que fazem uso pejorativo dele também pertencem à mesma casta. Ou os intelectuais petistas, comandantes da máquina pública espalhados Brasil afora não são das ´zelites´? Citem os nomes. Nada mais ´zelite´ que o PT…

Meus pais puderam me prover educação em escola particular, em uma época onde o ensino público já estava em pandarecos. Um privilégio. E com isso eu me virei. Fiz minha faculdade com o subsídio da sociedade paulista, pelo qual sou muito grato e certamente mais do que retribuí meu custo universitário em impostos ao longo da vida. Já fui expatriado, vivi em países realmente desenvolvidos, retornei ao Brasil. Não dependo do estado, meu sócio, para absolutamente nada. Um belo percentual da minha renda eu concedo a ele, estado, para que possa trabalhar em prol de uma sociedade melhor. Sou ficha limpa, não furo fila, nem estaciono em vaga de idosos. Não subverto meus princípios. Mas não sou parte do ´eles´ que o ex-presidente gosta de enfatizar. Nós, que desaprovamos o governo Dilma, somos contra o que? Contra os pobres? Contra o Nordeste? Que baixaria é essa? Esse discurso rasteiro me ofende e certamente a outras dezenas de milhões de pessoas, impedidas, na visão lulista do mundo, de divergir do que ´eles´ pensam ou praticam.

Vi com bons olhos e esperança a ascensão do Lula ao poder em 2003, que gradativamente se converteu em grande decepção. Nem por isso sou cego às inúmeras fragilidades do seu adversário maior, o PSDB, cujo telhado de vidro também é extenso. Mas o modelo de país que o petismo quer, eu não quero. Eu tenho o direito de não querer. Metade dos eleitores também não querem e o destino decidirá, pela margem de erro, quem prevalecerá. Mas uma casta privilegiada não pode assumir que a metade que lhes apoia é o povo, e a outra é das ´zelites´. Trata-se de uma ignorância sem igual, que repetida aos brados inflamados dos radicais ´empadinhas´ (termo bacana para contrapor aos ´coxinhas´), terminará fraturando o país.

Já listei em outros textos inúmeras razões que me levam ao espectro oposto daquele vinculado à continuidade. Não tenho laços sanguíneos com o PSDB, tal qual os petistas possuem com qualquer candidato que seja apoiado pela máquina. Em seu tempo, fui crítico áspero de muitas decisões do FHC. Porém, incomoda-me muito a soberba do pretenso (e falso) descobridor do Brasil quando pretende impor suas versões ao mundo e disseminar esse ´nós x eles´, ´norte x sul´, ´ricos x pobres´, que se alastrou na nuvem e obviamente já criou contrapartidas do mesmo gênero e com a mesma raiva. A pior herança do processo eleitoral foi plantada pelo Sr. Lula e será o Brasil dividido, do jeito que ele apregoa. Eu espero que a partir de segunda-feira ele esteja na oposição bravateira, função que sempre desempenhou com maestria. Tenho certeza de que nesse caso, os vencedores não se aprofundarão no discurso de cisão.

Domingo está aí. Lamentarei muito se não for agora. Não ficarei triste por mim, mas pelos meus filhos e pelo meu país. Pelos mais pobres também. Cedo ou tarde eles descobrirão que somente um ´bolsa família´ não é suficiente. Mas tudo passa nessa vida. Se Domingo não for o dia, 2018 está logo ali. Encampo um discurso oposicionista desde já, por que não tenho a menor esperança de que a continuidade traga a mudança, como a propaganda nos vende. Não trará, e isso obviamente tem um custo a ser pago pelas gerações futuras. Eu e a ´metade´ que está comigo não podemos ser julgados pelo direito indevassável de manifestar a nossa opinião.

Mas ainda tenho esperanças. Esse pode ser o primeiro Domingo do resto das nossas vidas de cidadãos brasileiros.

domngo maior

2 Comments
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2 Comentários

  1. Luisa Fabri

    30 de outubro de 2014 em 08:25

    Olá Victor, como vai?
    Sou paciente da sua irmã, ela que me falou do seu blog.
    Gostei muito, já submeti para receber notificação por e-mail.
    Hoje fiz aula com a Tati e ela me disse para te mandar solicitação de amizade no facebook, que você também posta pelo Face.
    Você pode me adicionar como amiga?

    Obrigada.
    Luisa Fabri.

  2. Joel Leal Ferreira

    20 de dezembro de 2014 em 10:40

    Infelizmente, nossas opções eram pífia,esse Aécio e um bosta. #putoDaVida#e esse partido.#seiDeTodasAsSacanagemDoPSDB. Vc não ???

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