Sobre grupos de controle e expectativas

Quando se deseja medir a eficiência de duas estratégias distintas aplicadas em um determinado público (ou segmento), é indispensável criar um grupo de controle, de amostra estatisticamente relevante, sobre o qual uma das estratégias será aplicada, ao mesmo tempo da outra, que incidirá sobre o público alvo.

O grupo de controle deve conter as mesmas características do público alvo, de tal modo que os resultados relativos das duas estratégias possam ser comparados para definir objetivamente qual é a mais efetiva. Se a reprodução de uma população estatisticamente equivalente for impossível, é viável trabalhar com aproximações, desde que sejam ancoradas no bom senso.

Na vida real, a ausência de grupos de controle nas análises dos acontecimentos políticos e econômicos normalmente banaliza as discussões, subvertendo qualquer relação de causa e efeito entre fatos e conclusões.

Vamos a um exemplo prático: a afirmação de que a reforma trabalhista foi ruim por que desde sua implantação o desemprego não caiu. Uma avaliação precisa sobre o seu grau de efetividade na geração de empregos somente poderia ser realizada caso tivéssemos um universo semelhante estatisticamente ao mercado de trabalho brasileiro onde a reforma não fosse aplicada, o chamado grupo de controle. Nessa situação, ambos os grupos receberiam a influência dos mesmos fatores exógenos e seria possível descobrir qual cenário é de fato o mais positivo sobre o nível de emprego.

Vale a mesma analogia para bolsonaristas e petistas nas infindáveis polêmicas sobre os rumos da política nacional nesses tempos ultra polarizados. Quando confrontados com qualquer tipo de crítica à gestão atual, seguidores de Bolsonaro tiram da cartola um ‘mas e o PT?’, como se houvesse certeza do que seria uma hipotética gestão Haddad. O que existe, de fato, é a comparação contra uma expectativa, a pior possível, de uma imaginária administração petista, tendo em vista seu péssimo legado de 14 anos no poder. Por outro lado, petistas, esses indivíduos desmemoriados, costumam vibrar a cada trapalhada do novo governo, esperando inocentemente que as mesmas despertem um sentimento de arrependimento nos que votaram em Bolsonaro, situação altamente improvável, uma vez que seus eleitores o escolheram com base na comparação com uma péssima expectativa, que serve como substituta a um grupo de controle inexistente.

Na prática, é difícil criar grupos de controle, a não ser em negócios massificados onde seja possível segregar parcelas da população para testes. Como não temos um universo paralelo, mesmo em nossas vidas pessoais não conseguimos identificar o que nos aconteceria se tivéssemos tomado diferentes decisões. A sua ausência é suprida pela definição de uma expectativa.

A expectativa é subjetiva, e tal qual a opinião, cada um tem a sua. Como vascaíno, por exemplo, me darei por satisfeito se meu time não for rebaixado. Muito diferente da expectativa de um flamenguista, para quem nada abaixo de um vice campeonato é aceitável. Isso explica também a dissonância na avaliação política. Anos no brejo reduziram muito a expectativa de boa parte dos brasileiros em relação aos seus gestores públicos, para quem qualquer melhoria em relação ao PT já está bom, o que, convenhamos, é muito pouco. É como se o brasileiro assumisse o papel de vascaíno… ‘se não cair mais, está bom’. Em ambos os casos, uma demonstração inequívoca da influência nociva da má gestão na condução de um país ou de uma instituição. Só podemos fazer juízo de valor sobre uma opinião se soubermos qual a expectativa do interlocutor e uma avaliação precisa de causa e efeito com a presença de um grupo de controle.

Os conceitos de grupo de controle e definição de expectativa são aplicados na vida corporativa, pessoal, na ciência e nos grandes temas nacionais. Infelizmente, a imprensa e os analistas ignoram sua influência sobre o todo e isso contribuiu para o empobrecimento do debate. Por isso, antes de tirar conclusões precipitadas sobre qualquer assunto, reflita se elas resistem a uma discussão relativa a grupo de controle e para melhor entender a opinião divergente da sua, procure descobrir sobre quais expectativas ela se baseia.

O universo das redes sociais seria muito mais palatável e suas relações mais ponderadas caso ambos os conceitos fossem amplamente difundidos.

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