A migração de riqueza

Recente levantamento feito por instituição especializada indica que o Brasil é um grande exportador de milionários. Somente em 2018, duas mil famílias com liquidez acima de US$ 1M deixaram o país. Como a pindaíba econômica não deve gerar novos super ricos na mesma proporção, a conclusão óbvia é que o país assiste à parte de sua riqueza migrar para outros lugares do planeta.

O Brasil perde milionarios

O assunto precisa ser discutido racionalmente. Socialistas e simpatizantes irão desejar má sorte aos imigrantes, já que detestam o capital, por mais que o desejem no dia a dia. Nacionalistas convictos também, por entenderem que traem a patria. Bobagem. Qualquer pessoa normal zela pelo seu patrimônio, seja grande ou pequeno, e pretende na pior das hipóteses, preservá-lo, senão aumentá-lo, além de almejar uma vida segura. O que difere um milionário de uma pessoa comum é que os primeiros tem muito mais condições e facilidades para migrar de país, mesmo sem um trabalho fixo, situação que não acontece com a maioria absoluta dos cidadãos, que precisam encarar as dificuldades que sua terra lhe oferece, desprovidos de outras alternativas.

Quando uma leva de duas mil famílias que desfrutam das melhores condições de conforto que o país pode oferecer resolve abandoná-lo, é fácil concluir que há algo de errado por aqui. O Brasil tem cansado até os mais otimistas, mesmo ricos.

A economia não sai do pântano desde 2012, com três anos seguidos de mediocridade antecedido por outros três da maior recessão da história. Nosso PIB per capita está em vias de ser ultrapassado por aqueles de Peru e Colômbia, fato que nos empurrará para uma posição intermediaria na pouco reluzente América do Sul. A produtividade é motivo de vergonha e quase nada é feito para alterar o quadro. A agenda nacional tampouco é promissora e nos oferece as mais variadas tretas oriundas de twits presidenciais e de gurus. Ficamos na torcida para que a aprovação da reforma da previdência abra a possibilidade de um futuro menos sombrio, à espera de mais uma declaração contundente de Paulo Guedes, fiador de nossa esperança. É pouco.

EUA, Austrália e Canadá são os grandes sorvedouros de riqueza no mundo. Reino Unido, com sua encrencada saída da União Européia, França com seu estado grande e complicado, Brasil, India, Rússia, Turquia e China exportam milionários. Essa última produz mais novos super ricos do que a quantidade dos que migram através da pujança de sua economia. Exceto pela China, ficou no passado o sucesso dos BRICS.

Não surpreende a lista dos países com superávit de milionários, em geral economias pouco burocráticas, com instituições sólidas, ambiente favorável ao empreendedorismo e boas condições de vida aos cidadãos. A pergunta que não quer calar: um dia faremos parte desse grupo? Se observarmos o nosso passado e presente, a previsão é pessimista.

Voltemos ao nosso quintal. Por que esse indicador é importante? Intuitivamente, nos leva à conclusão de que se fosse dada a oportunidade aos demais segmentos da pirâmide social, seríamos um país exportador de gente. É certo que longe de atingirmos o estágio desesperador de uma Venezuela, mas isso não chega a ser um alento.

A riqueza dos milionários gera riqueza, seja através de investimentos em novos negócios que criam empregos, ou pela simples capitalização no mercado financeiro, que na pior das hipóteses proporciona liquidez para crédito, outro estimulador da economia.

Quando nos tornamos um país que não vale a pena para riqueza, ela nos deixa. Será trágico quando esse pensamento se tornar lugar comum. Nesse dia, o desalento terá substituído o otimismo, a mais brasileira das virtudes. Vamos torcer para que ele nunca chegue.

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