É injusto avaliar alguém com 3 meses de trabalho, a prova disso é que nesse período os funcionários de qualquer empresa não recebem nota de desempenho. Por outro lado, esse é o famoso tempo de experiência, depois do qual o vínculo entre empresa e colaborador passa a ser permanente, sinal de que é possível ao menos a leitura de que as partes não estão em sintonia.
Em três meses, o máximo que podemos obter são primeiras impressões. O quê dizer então desses primeiros 100 dias do governo Bolsonaro? Eu tenho sentimentos contraditórios a respeito do assunto. Em alguns casos, repulsa pelo amadorismo e um inútil viés ideológico em pastas importantes (Educação e Relações Exteriores) além das manifestações infelizes dos filhos. Mas há também esperança, que emana do Ministério da Fazenda, Justiça, Infra estrutura e a partir das declarações normalmente ponderadas dos diversos militares em posição de primeiro escalão.
A precária articulação política tem sido motivo de preocupação. O governo utiliza a justificativa falaciosa de que o verbo articular significa corromper, mas qualquer um sabe que boa parte das ações do Executivo avançam somente com o apoio do Legislativo. Até o momento, há dúvidas sobre a intensidade e rapidez da reforma da Previdência, uma espécie de cartão de visitas, sem o qual Bolsonaro não terá condições de se credenciar para uma gestão ao menos razoável. O contraponto a ser feito nesse caso é que a adaptabilidade de qualquer novo governo se dá com o tempo, e estaríamos experimentando o custo de aprendizagem. Outros novatos passaram por perrengues semelhantes nos primeiros meses.
Me parece um desperdício de capital político o uso excessivo das redes sociais para tratar de temas desimportantes. Há quem diga que é para manter a militância apaixonada engajada. Mesmo assim, seria arriscado usar esse expediente para agradar uma minoria e incomodar o resto. Lembremos que o eleitorado de Bolsonaro não foi composto somente pelos bolsonaristas de primeira hora.
Na inauguração do último governo estreante, com Dilma em 2010, as redes sociais não eram tão difundidas e não se fazia de qualquer assunto uma panacéia. Não é mais assim e temos que nos acostumar com a nova realidade: para cada post ou notícia presidencial, uma treta. Poucas delas, porém, são realmente importantes. As declarações de Damares, por exemplo, servem apenas para abastecer o ‘mercado de memes’. Como essa, há outras situações similares. O mundo real vive apartado dos conflitos virtuais…
Dito tudo isso, não entendo que seja produtivo fazer uma lista das principais realizações e deslizes desses primeiros cem dias. Há erros e acertos que se perderão em um horizonte de quatro anos. Por outro lado, o Brasil requer urgência e o tempo não perdoa, passa rápido. Daqui a três meses, teremos 1/8 da gestão Bolsonaro transcorrida, já superando a fronteira das primeiras impressões.
Com base nelas, minha nota é 6 pelo que vi até agora. Regular, com altos e baixos.
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Victor Loyola
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