Eleições paulistas: a difícil missão do mentor de postes

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Após a eleição de Haddad para prefeito de São Paulo em 2012, reforçou-se o mito da infalibilidade de Lula, com dois postes eleitos no currículo. Diante dos recentes êxitos, muitos assumem que basta o ex-presidente petista entrar forte na campanha de Alexandre Padilha, que este subirá como um foguete nas intenções de voto. Nada mais equivocado; nem de perto os cenários das eleições municipais e estaduais se assemelham.

Em 2012, o prefeito Gilberto Kassab, em final de mandato e com razoável rejeição, não era candidato. Sua proximidade com José Serra, figurinha carimbada em cinco das seis eleições majoritárias desse século, certamente custou votos a esse último. Celso Russomano, a terceira via que liderou a maior parte da campanha, era um candidato sem profundidade e valia-se de sua carreira midiática para angariar simpatizantes. Haddad, apesar de ex-ministro da educação, onde notabilizou-se pelos fracassos na organização do Enem, era desconhecido. Havia também um quarto candidato, Gabriel Chalita, do PMDB, que jamais decolou. Lula realmente impulsionou a candidatura Haddad, e conseguiu colocá-lo no segundo turno nos momentos finais da campanha, destituindo Celso Russomano como oponente de Serra. Contra esse último, pesava o fato de ter abandonado a prefeitura seis anos antes para disputar o governo estadual,  mesmo após firmar em cartório um compromisso de que não o faria, além do desgaste natural por ser arroz de festa das propagandas eleitorais. Ninguém aguentava mais ouvir a história de sua origem humilde no bairro paulistano da Móca, ajudando o pai feirante a carregar caixas de legumes e verduras…

imageDeu-se então o embate entre a nova liderança promovida por Lula e um político das antigas, vinculado à renúncia anterior ao cargo que então disputava. À época, a aprovação do governo federal ainda era boa e Dilma Roussef experimentava o crepúsculo de seus melhores momentos. Não havia, portanto, nenhum ônus que prejudicasse o crescimento da candidatura Haddad, que foi eleito com certa facilidade no segundo turno.

Quem acredita no toque de Midas de Lula nas eleições estaduais se esquece de alguns detalhes importantes: primeiramente, o atual governador é candidato. É sempre mais difícil disputar as eleições contra quem está exercendo o mandato.  Um índice de aprovação regular já é capaz de promover a reeleição. Geraldo Alckmin se encaixa nesse caso. Apesar de sua gestão estar muito aquém das expectativas, ele mantém um resiliente apoio no interior do estado e uma avaliação geral razoável, a despeito da crescente insatisfação com a segurança pública e o vergonhoso risco de racionamento de água na capital, situação cuja responsabilidade pode ser totalmente atribuída à inépcia da administração tucana. Mesmo assim,  Alckmin em 2014 é mais forte que Serra candidato a prefeito em 2012.

imagePaulo Skaf, presidente da Fiesp, e que há tempos vale-se dessa posição para inserções na mídia, já ultrapassou os 20% de intenção de voto nas pesquisas e tem espaço para crescer mais. Apesar de sua volatilidade partidária, abraçando mudanças conforme essas lhe sejam convenientes, ignorando por completo qualquer apego de fundo ideológico, pode ter o apoio de boa parte do poderoso segmento industrial paulista. Seguramente é mais forte que o Celso Russomano candidato a prefeito em 2012.

Se disputar o governo, Gilberto Kassab será figurante, tal qual Gabriel Chalita na eleição para prefeito. É possível ainda que o PSB lance candidato próprio, mas dificilmente romperá a barreira dos dois dígitos.

imageEntão chegamos em Alexandre Padilha, terceiro da linhagem de postes que Lula tentará eleger. Apesar de ex-ministro da saúde, não é conhecido. Situação similar à de Haddad em 2012. Ocorre, porém, que os dois anos que se passaram não foram nada felizes para o PT: o governo Dilma, quase indevassável à época das eleições municipais, sofre sucessivas quedas na aprovação e um cenário de derrota no final do ano passou de improvável para possível. Para piorar, Fernando Haddad faz uma gestão altamente criticada e impopular na cidade de São Paulo. Não será um bom cabo eleitoral, muito pelo contrário. Além disso, sabe lá qual será o desmembramento da história do doleiro Youssef, que já respingou no candidato petista. Nesse contexto, a mãozinha mitológica de Lula está mais fraca. Com certeza, o candidato Alexandre Padilha tem menos potencial que Fernando Haddad em 2012.

Partindo de um resultado de primeiro turno bastante equilibrado nas últimas eleições municipais, quando os três primeiros colocados terminaram muito próximos, temos hoje um Geraldo Alckmin mais forte que o Serra da época, um Paulo Skaf mais forte que o Russomano da época e um Alexandre Padilha mais fraco que o Haddad da época. Apesar de estarmos ainda a cinco meses da eleição, é claro o favoritismo da dupla Alckmin-Skaf e muito difícil o desafio do mentor de postes. O tempo dirá.

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