Erramos a todo momento. O mundo é uma grande aldeia de seres imperfeitos. Mas existe um tipo de erro que não é corrigível, não se apaga tão cedo, por mais que o tempo se esforce para colocá-lo no fundo do baú da memória: são os erros definitivos.
Ontem, o goleiro Caballero, da Argentina, cometeu um desses. Em bola recuada, que poderia ser isolada com um chutão, sabe-se lá o que lhe deu na cachola para que ele tentasse encobrir o atacante croata com um lençol. O adversário matou no peito e estufou as redes. O primeiro dos três gols da Croácia, que desnorteou a equipe Argentina e que provavelmente lhe custará a classificação. Por mais que a celeste funcione como um bando ao redor de Messi ao invés de um time, e que provavelmente perderia da Croácia independentemente da lambança, ela ficará para inapagável na memória dos nossos hermanos e acompanhará seu goleiro para todo sempre.
No programa Central da Copa, Júlio César se solidarizou com o colega de profissão. Ele relembrou seu próprio erro em 2010, nas quartas de final contra Holanda, quando ao tentar interceptar um cruzamento, como autêntico caçador de borboletas, permitiu o derradeiro gol holandês que nos eliminou do Mundial. Confessou que a situação o acompanha e incomoda até hoje. Apesar de não ter sido tão bizarro quanto o do argentino, o desfecho foi o mesmo. Naquele momento senti empatia pelos dois. Até me arrependi de tê-lo xingado de flamenguista imediatamente após o frango. Um xingamento dos mais graves.
O futebol é pródigo em produzir esses vilões de erros definitivos. Quem não se lembra de Toninho Cerezo em 82, Zico em 86, de Roberto Carlos e a ajeitada no meião em 2006, Julio César e Felipe Melo em. 2010. Roberto Baggio, que isolou o pênalti derradeiro em 94 só não deve sofrer mais porque a Azurra estava em desvantagem. Exemplos não faltam.
Mas eles não se restringem ao esporte. Que o diga Michel Temer, que resolveu receber Jorsley Batista nos porões do Palácio do Jaburu, em evento que dali a pouco tempo representaria na prática o fim de sua efêmera gestão. O que dizer do erro do hoje presidiário Lula, que endossou uma senhora inepta para sucedê-lo. Certamente, em seus momentos de reflexão no cárcere, ele deve se arrepender muito de sua escolha, um erro definitivo que custou muito caro ao país.
Os erros definitivos podem causar danos financeiros, materiais, físicos ou psicológicos. Os mais graves impactam em todos esses pontos. A falha de Caballero lhe causará danos psicológicos, talvez algum dano financeiro, mas sua integridade física está em preservada. No mercado de ações, o dano financeiro pode ser monumental, no trânsito, destacam-se os impactos materiais e físicos.
Somos autores incansáveis de erros, a grande questão é que a maioria deles não é definitiva. Em geral são contornáveis, perdoáveis. O problema é que quando estão em andamento, muitas vezes não é possível descobrir se serão definitivos ou não.
Voltemos ao caso do Caballero. Até o momento, a lambança que ele fez ontem pode ser considerada definitiva. Mas caso a Argentina reverta a situação, vença a Nigéria e se classifique, ele poderá ser perdoado por seus conterrâneos, e a severidade de seu erro diminuirá. Se o atacante croata isolasse a bola, sua falha também logo seria esquecida…
Geralmente erros definitivos despertam um sentimento de empatia nos observadores externos à situação, pois são causadores de grande sofrimento em quem os comete. O nível de ‘sofrência’ também é um indicador classificativo do erro. Um aviso: não vale a pena sofrer por aqueles que não são definitivos.
Como evitá-los? Impossível saber. Apenas os perfeitos não cometem erros, e como eles não existem nesse mundo, nos resta torcer para que do manancial dos equívocos que cometemos, nenhum se transforme em um erro definitivo…
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Victor Loyola
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