O Japão perdia por 1×0 da eliminada Polônia quando no outro jogo do grupo a Colômbia abria o placar contra o Senegal, na metade do segundo tempo. Essa combinação de resultados classificava os japoneses pelo critério de fair play (4 X 6 em cartões amarelos) . Caso tomasse um segundo gol, tudo iria por água abaixo.
O técnico japonês Akira Nishino não titubeou e preferiu cozinhar o jogo em banho maria. Nada de se arriscar e tentar o empate. Deu certo, pois na outra partida, Senegal não teve forças para igualar o marcador.
Nishino foi muito criticado pela imprensa internacional por sua decisão covarde de não buscar o resultado, e ele próprio manifestou não estar feliz com a atitude, justificada pela necessidade de classificação. Pragmático, preferiu ser um covarde classificado do que um corajoso eliminado.
Não que sua estratégia fosse imune a riscos. Um empate de Senegal, algo absolutamente fora do seu controle, eliminaria o Japão e o colocaria na cruz. Além da pecha de covarde, receberia a de derrotado. Fosse ao ataque, poderia não acontecer nada, e nesse o caso, ao menos o Japão não sairia vaiado. O treinador considerou que não valia a pena correr o risco.
Não sei se na posição dele adotaria a mesma estratégia, mas não o crítico por isso. Era uma possibilidade legítima e prevista pelo regulamento. Pode não ter sido a melhor para o entretenimento que proporciona a Copa do Mundo, mas foi efetiva para a competição.
A situação lembra muito a do Brasil 82, que mesmo com a vantagem do empate no 2×2 contra a Itália, seguiu atacando, levou o terceiro gol e foi eliminado. Telê Santana e aquela geração jamais se desvencilharam da imagem do fracasso, apesar daquele time ser até hoje mais lembrado que muitas seleções campeãs.
Seria o Japão lembrado em seu país pelo time que foi à frente buscar o empate e tomou o gol da eliminação? Não. Mais que isso, provavelmente o técnico japonês fosse criticado exatamente por não ter adotado a postura cautelosa.
No final do dia, a melhor estratégia é aquela que dá certo, e o a Japão se mantém na Copa. Enfrentará o time de melhor campanha na primeira fase, a Bélgica. E se der zebra? Cruzaria com o Brasil nas quartas (assumindo que possamos pelo México). Nesse caso, retornariam à terra do sol nascente como heróis. Nishino foi cauteloso, evitou maiores riscos, mas não abdicou do direito de sonhar. O Japão está vivo.
Parabéns, Nishino.
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Victor Loyola
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