Fragmentos de pensamento: um brasileiro envergonhado

Enquanto o Brasil assiste ao desempenho duvidoso de nossa seleção e se entretém com os jogos da Copa, os guardiões da impunidade do STF vão solapando, passo a passo, os recentes avanços conquistados no combate à corrupção, um mal que nos causa dano há cinco séculos.

Sob a liderança do aguerrido trio Melajato, condenados são libertados, provas anuladas, novas interpretações da lei são criadas para benefeciar toda estirpe de bandidos, desde que sejam poderosos, é claro.

Não estamos tratando aqui das centenas de milhares de pedidos de habeas corpus dos ladrões de galinha, que aguardam por decisão em uma fila interminável. Esses jamais serão atendidos. O STF do trio Melajato, que reina soberano e prepotente na Segunda Turma, somente volta sua atenção aos poderosos, com quem parecem manter vínculos ideológicos ou interesses comuns. A eles, todo privilégio que uma corte subserviente pode oferecer.

Lamentavelmente, vivemos em um país de maioria ignorante, que sobrevive à duras penas e não tem discernimento da gravidade dos eventos que ocorrem em sombrios gabinetes de Brasília. Na outra ponta, boa parte da elite ‘culta’ é complacente com o status quo, desde que esse lhe conceda os benefícios que sempre desfrutou.

O contraponto é que há uma faísca de indignação crescente se espalhando em todos os segmentos da sociedade, que por ora é um espasmo incapaz de se transformar em ação, obstruída por essa natureza ‘bovino – festiva’, que nos converte em uma cordial massa de manobra. Os movimentos em prol do retrocesso são escancarados diante de todos, que boquiabiertos, manifestam sua intenção de voto nos mesmos calhordas de sempre.

Nesse cenário desolador, não causa surpresa que parte do STF confronte a renovação de peito aberto, sem a menor vergonha na cara. Eles são o reflexo do que o Brasil sempre foi. Não descansarão enquanto não nocautearem qualquer possibilidade de mudança. Contam com apoio de entidades de classe que se beneficiam do ‘mecanismo’, de políticos aterrorizados com a perspectiva de cadeia e com a omissão da maioria indiferente da população.

Em algumas ocasiões, acredito que a onda moralizante prevalecerá no longo prazo e que vivenciamos um ponto de inflexão na história. São rompantes de otimismo que desaparecem em dias como hoje, ontem e amanhã. Quando penso no Brasil, mergulhado em uma crise sem fim, que jogou uma década pela janela, governado por canalhas eleitos por uma população alienada, contaminado nos três poderes, a palavra que me vem à cabeça é desalento.

Até quando a boiada aguenta a marcação de ferro e fogo no lombo? Há quem diga que a afronta é tão grande, que se aproxima a hora em que mesmo os bovinos morderão, revoltados. Tenho dúvidas de que um dia a mansidão venha a se transformar em algo mais assertivo, essa postura combativa só existe quando o assunto é futebol. A realidade será capaz de desmentir minha convicção?

Enquanto seguimos em compasso de espera, aguardando pelo salvador da pátria e pelos gols de Neymar, o que temos para hoje é assistir às peripécias da segunda turma, aguardando pela libertação da próxima leva de bandidos.

Eu tenho muita vergonha do STF.

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