Em 2002, ao nascer do sol da era petista, o trio Lula, Dirceu e Palocci comandava o Brasil. O primeiro como seu único presidente oriundo da classe operária, um resiliente candidato até então acostumado à derrotas e que julgava-se predestinado a mudar o país. O segundo, o czar da política nacional, com o Congresso a beijar-lhe as mãos e mentor de toda sorte de acordos e conchavos. E o último, o elo de ligação entre o mercado e essa ‘estranha’ nova safra de políticos que havia tomado o poder.
Se tudo corresse conforme o previsto, dali a 8 anos um dos dois sucederia o chefe na presidência da República, dando continuidade à hegemonia vermelha. O plano foi por água abaixo. Começou com a derrocada de Dirceu, afastado de suas funções executivas a partir das primeiras denúncias do Mensalão, processo pelo qual ele seria condenado 9 anos mais tarde. Posteriormente, veio o afastamento de Palocci, enrolado em negociatas a perder de vista. Alijados do Palácio do Planalto por má conduta, permaneceram influentes na órbita petista. Mais tarde, o italiano voltou a ocupar cargo executivo no governo Dilma, de onde também foi afastado por suspeitas de corrupção.
O grande chefe tocou a vida sem eles, livrou-se de um impeachment por causa do ‘Mensalão’ graças à leniência da oposição e elegeu sua sucessora, naquela que veio a ser a mais desastrosa escolha de sua vida. Como sabemos hoje, ele iria se enrascar com crimes de lavagem de dinheiro e corrupção ao longo dos seus mandatos.
Dirceu é um criminoso reincidente, que segundo a justiça, não deixou de delinquir nem enquanto esteve preso. O presidiário Palocci enriqueceu amplamente com suas maracutaias e sem a resistência do colega guerrilheiro, está na iminência de tornar-se um delator, depois de já ter falado cobras e lagartos do antigo chefe e abandonado o partido.
Após uma via crúcis de quase dois anos, o ex-presidente e quase ministro foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro em duas instâncias e encontra-se preso há 40 dias, sem perspectivas de sair da cadeia tão cedo. Equivocadamente, pensou que seu ‘sabático’ geraria algum tipo de comoção nacional. Para quem julgava ser o representante de Deus na terra, a indiferença com a qual o Brasil reagiu à sua prisão deve ter lhe decepcionado. Fora a reclamação dos puxa-sacos de sempre e dos militantes profissionais, o país seguiu sua rotina e a cada dia adicional em cana, mais ordinária se torna a situação do ilustre presidiário.
A partir de hoje, com o retorno de Dirceu ao seu lar, o Complexo Penitenciário de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, de onde só saiu pela interferência sempre inadequada do trio Melajato, o Brasil experimentará, pela primeira vez em sua história, a situação onde a trinca mais poderosa de um governo federal encontra-se presa ao mesmo tempo. Seria equivalente a termos FHC, Malan e Serjão ou os trapalhões Dilma, Guido e Mercadante em cana. Ou ainda, ver o trio de raposas Michel, Eliseu e Moreira atrás das grades.
Estamos falando da cúpula de um governo, não é pouca coisa. Desse fato extraordinário, decorrem-se duas conclusões. A primeira, inegavelmente positiva, é a de que o Brasil melhorou. Jamais poderíamos imaginar há pouco tempo que tanta gente graúda terminasse presa por roubalheira. O triunvirato petista está longe de ser exceção, a lista é grande e parece ter um futuro promissor. É um alento saber que mesmo no aparente atoleiro moral em que o país se encontra, há esperança.
A segunda conclusão é um pouco mais sombria. Se retrocedermos duas ou três décadas, iremos encontrar no PT o baluarte da moralidade, combatente incansável de batalhas contra a corrupção. Poucos poderiam antever no longínquo ano de 2002 que o partido sucumbiria de maneira tão servil ao modelo que antes criticava. Muitos previam as consequências dramáticas da incompetência, que experimentamos a partir do segundo mandato da impichada mais inepta, mas a adoção da roubalheira como meio de perpetuação no poder estava no script de pouquíssimos oráculos.
O simbolismo da derrocada da cúpula petista é amplo. Se ao mesmo tempo representa um avanço institucional em um país onde a elite jamais foi ameaçada de prisão, por outro é a prova de que o sistema falido do capitalismo de compadre e tolerância ao crime tem uma grande força de cooptação. Não temos nenhuma evidência de que o próximo governo eleito agirá de maneira diferente.
A ambiguidade reina absoluta por essas bandas, onde as boas notícias suscitam desconfianças e as más notícias vem carregadas de esperança. De qualquer maneira, a prisão simultânea da ‘trinca de reis’ merece um brinde. ??
Que o futuro seja generoso com o Brasil.
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Victor Loyola
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2 Comentários
Luis Godeghesi
18 de maio de 2018 em 19:54Excelente Victor . Como sempre digo a vaidade e o dinheiro corrompe os homens , se bem que na trajetória petista nada de novo na literatura o livro A Revolução dos Bichos retrata bem isso. Mas falta prenderem a Gleisi , trocava ela pelo Dirceu ou pelo Palocci, essa senadora é o maior exemplo de desrespeito a moral e cívica desse país !!! Hipocrita , calhorda, um desrespeito as pessoas de bem .
Victor
19 de maio de 2018 em 09:59A hora dela está chegando, Goda!