Por muito tempo, cultivei entre 94-95 Kg distribuídos por 1.83m. Foram três ‘check-ups’ bienais nas mesmas condições. Depois de seis anos vivendo fora do país, quando retornei, em 2009, não resisti à intensa exposição ao pão de queijo, requeijão, coxinha, arroz com qualquer coisa, churrasco com farofa e outras brasilidades. Apesar do apetite de causar inveja a qualquer pedreiro, sempre tive o hábito de praticar atividade física e mesmo assim, o Brasil me engordou.
A despeito dos quilos a mais, não estava obeso, e o guarda roupas ajustado à pança aliado aos exames razoavelmente em ordem (embora o colesterol estivesse na fronteira do tolerável), nunca colocaram um regime em pauta, desde que não me aproximasse muito da marca de 0.1ton, como de fato nunca ocorreu.
E assim levei a vida por um bom tempo, completamente despreocupado em relação à balança. Meu ponto de inflexão se deu na virada desse ano, durante minha viagem à Patagônia, em crônica descrita nesse blog (um roteiro no fim do mundo). Foram 60Km em três dias de ‘hiking’, sendo o último deles, com 25km e 1.300m de aclive, bastante desafiador. Nesse trecho, meu sofrimento se deu nos 12km finais, em descida, que exige muito das articulações (mais que a resistência, demandada na subida). Meu joelho gritava nos momentos finais. Tivesse caído, seria absorvido pela paisagem e levantaria somente com um guindaste.
Enfim, a conclusão: meu sobrepeso estava me prejudicando. Era hora de criar vergonha na cara e emagrecer. Estipulei minha meta: perder 10Kg até o fim de junho. Retomaria as medidas que tinha quando casei, em 1999, de 85Kg. Para quem nunca havia feito regime na vida, parecia ser um desafio e tanto.
O programa começaria na segunda quinzena de janeiro e seria baseado em dois pilares: diversificar/ intensificar a atividade física e reduzir dramaticamente a ingestão noturna de calorias.
Meu organismo se acostumara aos 3km diários de natação, percorridos em uma hora. Estava na zona de conforto e a bicicleta (ergométrica) foi adotada como diversificação. Mau corredor que sou, o pedal foi a escolha natural. Para evitar o tédio, Netflix na tela do Samsung, disposto sobre o painel de controle da bike. Adotei um percurso que queimava entre 650-700 calorias em uma hora, iniciando com 25Km e subindo gradativamente para 30Km, distância que percorro atualmente. Quando havia tempo, em determinados dias complementava o ciclismo ergométrico na água, com mais uma hora de braçadas. Nessas ocasiões, dispendia ao menos 1.300 calorias. Tratei de seguir à risca a rotina de exercícios, ao menos 6x por semana. Intensidade aeróbica tornou-se uma obsessão.
Não cortei nada no café da manhã e no almoço. Tudo permitido, embora controlasse a quantidade. Nada de rivalizar com os pedreiros. O grande desafio era o jantar. Nesse caso, passei fome. Eliminei os carboidratos e passei a ter a dieta de um faquir quase todas as noites. Rondava a geladeira como um cachorro viralata à espreita das sobras de um churrasco. Recusei pedaços de pizza, spaghetti à bolonhesa e até strogonoff. Minha força de vontade foi duramente colocada à prova.
Evitei, sempre que possível, compromissos gastronômicos noturnos. Foi assim que nas primeiras semanas, a partir de uma disciplina rigorosa, rapidamente percebi os resultados se materializarem. Comecei meu processo de ‘desaparecimento’ a uma taxa de 1Kg/semana.
O ‘feedback’ da balança é revigorante pois estimula seu comportamento. Perceber que seus esforços não estão sendo em vão é fundamental, particularmente no início dessa dolorosa jornada.
A meta que estabeleci para Junho foi atingida antes do final de Março: 85Kg! Fiquei tão animado que decidi esticar mais 2Kg e alcançar o peso que tinha ao me formar, no final de 1994: 83kg. O cumprimento dos objetivos por antecipação acaba servindo como um estimulante gerador de autoconfiança. Está criado o ciclo virtuoso.
Mesmo com uma semana de Itália e Espanha, onde não ofereci resistência às tentações calóricas, retomei o ritmo em meu retorno e atingi um feito histórico: 82.7Kg, inédito desde 1993!!!!!
Perdi todas as roupas sociais, aquelas que antes eram justíssimas estão folgadas, sobro nas camisas; um prejuízo financeiro ainda incalculável, mas recompensador. Isso por que não refiz os exames, cujos resultados certamente estarão exemplares. A disposição melhorou e as dores no joelho sumiram. Mesmo sem treinar, bati meu recorde na corrida de rua, algo que não gosto de fazer.
Já voltei a jantar, moderadamente, e retomei os compromissos à noite, quando surgem. Porém, tornei-me um neurótico, pois toda vez que percebo ter saído da linha, compenso compulsivamente nos dias seguintes. Não admito a hipótese de ganhar peso novamente A próxima meta é reforçar a massa muscular.
Não foi sem pouco esforço que desinchei dois pacotes e meio de arroz em quase três meses. É uma solução matematicamente simples, o sujeito tem que ingerir menos calorias do que gasta. Para alguém com meu biotipo e idade, a manutenção do peso se dá aproximadamente com 2.000 calorias diárias. Inclua uma rotina de queima de 700 por dia, com uma redução de 25% (500 calorias) no consumo diário e de repente você gerará um déficit de 1.250 calorias em um dia. Impossível não emagrecer desse jeito.
Infelizmente, foi-se há muito o tempo em que eu podia comer impunemente. Acho que lá pelos 25 anos, o metabolismo começou a dar sinais de fadiga e reter gordura. Paciência. A idade requer mais disciplina e a verdade é que uma vez acostumado a um padrão moderado de alimentação, ele passa a ser a regra e não a exceção. Hoje, não consigo me imaginar comendo os quatro pedaços de pizza que fácilmente detonava no período pré Patagônia. Com dois, já me sinto empanturrado.
É verdade também que perder 12Kg de um total de 95Kg não é nada demais. Mas circunscrito à minha realidade, é uma realização inédita. Cada qual tem circunstâncias e motivações distintas, e as referências de êxito variam. Mas a dieta da fome noturna aliada à intensidade aeróbica funcionou muito bem para mim. Recomendo!
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Victor Loyola
Os textos refletem minha opinião pessoal sobre qualquer assunto, não há nenhum tipo de vinculo com corporações, grupos, ou comunidades. Comentários são extremamente bem-vindos. Me esforçarei ao máximo para fazê-lo um hobby permanente. No segundo tempo de minha vida, está definido que continuarei escrevendo. Se eu parar, de repente é por que eu surtei ou houve algum apagão de criatividade. Essa versão do blog está turbinada – é para ser mais agradável e acessível ao leitor. Há até um espaço para enquetes, uma maneira bem-humorada para encarar o mundo. Boa leitura!!!!!
2 Comentários
sonia pedrosa
23 de maio de 2018 em 09:03Muito bem, Victor! Também estou com essa meta. Assim que terminar um livrinho que estamos fazendo, vou começar uma atividade física e cortas as massas e os doces (já cortei). Nada muito radical, mas com disciplina! Seu exemplo me estimulou! Parabéns e obrigada!
Zara
31 de julho de 2018 em 03:09Obrigado em favor da tal partilha um bom opinião, artigo é agradável,
isso é porque eu li inteiramente