
A saída para os nossos problemas está na educação. Essa frase é quase um mantra popular, repetidas de norte a sul, na boca de pobres e ricos. Será mesmo?
Com quase 50% dos domicílios sem acesso a saneamento básico, o Brasil é incapaz de resolver um problema do século XIX. Não ter acesso à agua tratada, coleta e tratamento de esgoto nos remonta às imagens de favelas ribeirinhas sobre palafitas, mas poderia refletir também as comunidades pobres dos grandes centros urbanos, sem o devido apoio de uma infraestrutura minimamente decente.
É intuitivo afirmar que para a metade mais desprotegida, as condições básicas de higiene e saúde são muito piores do que nos outros 50%. Obviamente que a incidência de doenças e mortalidade infantil no conjunto dos domicílios sem saneamento é infinitamente pior. E também é lógico afirmar que um percentual bem maior que 50% das nossas crianças cresce em ambientes insalubres, pois as famílias mais pobres tem mais filhos.
Assim, na primeira infância, período considerado crítico para a formação cerebral, um grande contingente das crianças brasileiras (algo entre 50-70%) é exposta a uma indesejável variedade de enfermidades, que certamente impactarão em sua capacidade cognitiva futura, decorrentes da ausência de saneamento!
Quando começam o ensino fundamental, o estrago já esta feito, e dificilmente uma ótima educação conseguiria tirar o atraso já estabelecido na largada. Esse também nem é o caso, já que a educação de péssima qualidade oferecida aos mais pobres amplifica o abismo que separa os dois Brasis.
O descaso produz gerações com deficiência cognitiva. E para resolver essa tragédia, só educação não basta. O quadro comparativo de saneamento básico e tratamento de esgoto fornecido pelo Ministério das Cidades em estudo apresentado pelo Instituto TrataBrasil (www.tratabrasil.org.br) mostra os números dessa situação alarmante para os itens água tratada, coleta e tratamento de esgoto.
A tabela com o desempenho das cem maiores cidades do Brasil dá uma pista do que seriam esses números para os demais 5.400 municípios. Em tese, quanto maior a cidade, melhores as condições econômicas para resolver esse problema. Se nas cem maiores, os resultados são esses…
Então, na próxima vez que ouvir de alguém a célebre frase de que a solução está na educação, responda que mais grave ainda é a situação do saneamento básico. Incrivelmente, estamos em 2017 e esse ainda é o maior problema do Brasil. É muita incompetência e corrupção juntas para produzir esse descalabro.
Distribuição das cem maiores cidades em relação à àgua tratada
Distribuição das cem maiores cidades em relação à tratamento de esgoto x água consumida
Desempenho das capitais em saneamento básico
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Victor Loyola
Os textos refletem minha opinião pessoal sobre qualquer assunto, não há nenhum tipo de vinculo com corporações, grupos, ou comunidades. Comentários são extremamente bem-vindos. Me esforçarei ao máximo para fazê-lo um hobby permanente. No segundo tempo de minha vida, está definido que continuarei escrevendo. Se eu parar, de repente é por que eu surtei ou houve algum apagão de criatividade. Essa versão do blog está turbinada – é para ser mais agradável e acessível ao leitor. Há até um espaço para enquetes, uma maneira bem-humorada para encarar o mundo. Boa leitura!!!!!
1 comentário
Simone Barbosa
21 de abril de 2018 em 19:35Uma realidade triste. Estamos longe para solucionar. Primeiro o saneamento básico assim melhoraremos a educaçao.