A palavra acima não existe, por isso está grafada sob aspas. É a mistura de omissão com tolerância. Ambas as características em excesso se tornam quase sinônimas. Eventos que nos causam indignação geralmente tem um forte componente de ‘omissância’, e não poucas vezes fazemos parte dessa engrenagem catalisadora de tragédias.
Vejamos o caso do mar de lama que destruiu cidades e matou para sempre um rio em Minas Gerais. Não precisamos entrar muito em detalhes para identificar a mistura explosiva da omissão com a tolerância. A primeira, das empresas que deveriam vistoriar e manter a integridade das obras sob sua gestão, a segunda de uma sociedade que tolera o crime e a irresponsabilidade. A mais antiga tragédia brasileira que a minha memória é capaz de resgatar foi o naufrágio do ‘Bateau Mouche’, na virada de algum ano na década de 80. Ceifou a vida de mais de uma centena de pessoas, colocadas em risco em uma embarcação superlotada. Desde então, acompanho frequentemente e com tristeza eventos de magnitude similar. Muitas vezes, a mãe Natureza, implacável quando quer mostrar sua força, tem a mãozinha de autoridades negligentes, cientes de que em Bovinolândia a lei vale para poucos. Mas o que poderíamos esperar de um país que elege e reelege corruptos, e que se curva bovinamente diante de barbaridades que brotam todos os dias em seu cotidiano? O país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza abriga um atentado de Paris por dia ao longo de 365 dias do ano, totalizando mais que 58.000 assassinatos, recorde mundial inatingível, número de causar inveja aos fascínoras do Estado Islâmico. Durma com essa, país da ‘omissância’. Eis um caso que dou como perdido.
Mudando de continente e aterrisando na cidade luz, mais uma vez atacada por terroristas, eu me pergunto: até quando? Retrocedamos uns 85 anos. A mesma Europa fez vistas grossas à ascensão de Adolf Hitler, que por quase uma década emitiu sinais de beligerância, completamente explícitos depois da Alemanha ocupar a Áustria, República Tcheca e reocupar a Alsácia&Lorena. Quando as tropas nazistas invadiram a Polônia, em 1939, já era tarde demais para uma reação. A vitória dos aliados se deu 6 anos e 60 milhões de vidas mais tarde. O estado islâmico, o mais novo câncer da humanidade, foi alimentado em sua origem pelo Ocidente que desejava combater o ditador sírio. Estava criado um monstro sanguinário que deixa a Al-Qaeda no chinelo. Detentor de uma área considerável entre a Síria e o Iraque, o EI explora seus próprios campos de petróleo que comercializa clandestinamente, principalmente com a Turquia. Recebe financiamento externo de simpatizantes com a cruzada jihadista. Possui recursos financeiros para seguir sua jornada assassina, impune, se prevalecer a ‘omissância’. Será que uma ação coordenada que os sufoque financeiramente não é viável?
E as grandes potências fazem o quê, além de brindar o planeta com uma oratória indignada? Não é de hoje que o Estado Islâmico estarrece o mundo com seus assassinatos. Será que o poderio financeiro e tecnológico não é capaz de debelar esse mal? Se não for possível extirpar o câncer, ao menos deixá-lo enfraquecido, quase inofensivo? Não faz muito tempo, li uma reportagem que denunciava a omissão da polícia no interior da Inglaterra em relação a crimes cometidos por muçulmanos, por receio de linchamento pelo ‘politicamente correto’. Outro dia, uma chefe de estado de um país periférico, conhecida por suas afirmações desconexas, pregou o diálogo com esses párias. O pior é que esse tipo de discurso e postura encontra receptividade em alguns segmentos da sociedade, aqui e no mundo. Hoje mesmo li uma notícia do site ‘Carta Maior’ que atribuía a culpa dos atentados de Paris ao neoliberalismo econômico. Faltou culpar o FHC. Argumentos de uma pobreza intelectual que conversam com essa dita ideologia do Estado Islâmico, que deseja destruir a civilização ocidental. São pobres de espírito.
Eu me considero um democrata, respeito a liberdade de expressão e tenho apreço pela diversidade, mas desprezo profundamente ditadores, assassinos, estupradores, corruptos e terroristas. Por formação, sou contrário à pena de morte, mas essa gente do Estado Islâmico só entende a linguagem do fuzil e de bombas. Já passou da hora dessa comunidade terrorista sofrer a consequência dos seus atos. Se a resposta das grandes potências permanecer um ‘blablabla’ interminável, será a adoção da ‘omissância’ como política de estado, e teremos o sinal verde para que o terror se propague como erva-daninha mundo afora.
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Victor Loyola
Os textos refletem minha opinião pessoal sobre qualquer assunto, não há nenhum tipo de vinculo com corporações, grupos, ou comunidades. Comentários são extremamente bem-vindos. Me esforçarei ao máximo para fazê-lo um hobby permanente. No segundo tempo de minha vida, está definido que continuarei escrevendo. Se eu parar, de repente é por que eu surtei ou houve algum apagão de criatividade. Essa versão do blog está turbinada – é para ser mais agradável e acessível ao leitor. Há até um espaço para enquetes, uma maneira bem-humorada para encarar o mundo. Boa leitura!!!!!
2 Comentários
Tammy
15 de novembro de 2015 em 20:19O alerta comparativo quanto ao início da 2a. guerra mundial é assustador mas muito válido. Vamos torcer para que as grande potencias finalmente se organizem e numa ação conjunta extirpem esse cancer (EI) do mundo.
Márcia
17 de novembro de 2015 em 15:41Lendo o seu texto, história à parte (essa guerra na região da Síria vem há tempos!!!), pensei no homem imobilizado pelo terror….assim como no Brasil! O dinheiro mobiliza e imobiliza ao mesmo tempo, depende do lado em que se está.