Ontem, sem quarer digitei uma frase incompleta na TL do Facebook e devo ter apertado a tecla ‘publicar’. Quando retornei para a plataforma um par de horas depois, estranhei o fato de haver mais de uma centena de comentários sobre um “post” que eu não identificava como meu.
Minha primeira reação foi de que haviam “hackeado” minha conta, depois percebi o erro e comecei a ler os comentários. A frase registrada deixava a impressão de que eu solicitava aos leitores que a completassem: “O mundo foi feito para…”
Para minha surpresa (positiva), foi a primeira publicação (escrita) em muito tempo que não gerou tretas. Não houve caneladas entre os comentários, tampouco as discussões infinitas entre bolsonaristas x antibolslnaristas x esquerdistas, três bolhas cada vez mais distintas nas rede. Também não tivemos as pelejas entre os diversos posicionamentos diante da pandemia, que frequentemente geram ofensas entre os contendores.
De acordo com seu estado de espírito naquele momento, as pessoas publicaram respostas diversas, complementando a frase com um toque pessoal. Houve de tudo, desde comentários bem humorados, com uma pitada de ironia ou amargura, profundos, divertidos, meio filosóficos, curtos e longos. Não houve xingamentos. Ninguém entrou na resposta alheia para escrachá-la. Eis o ineditismo da situação.
Nesse mundo cada vez mais chato e intolerante, as redes sociais em várias ocasiões se convertem em lugares onde gente imperfeita espera a perfeição nos outros e ao menor sinal de fraqueza, partem para o ataque sem hesitação, protegidos pela ausência do olho no olho, que é um catalisador de empatia. E não raro a polarização de quase qualquer assunto converte a sua opinião em verdade definitiva, fechando as portas para o diálogo civilizado. Transitar por esse mundo de tretas e bordoadas com a serenidade de um Dalai Lama é um exercício de paciência quase infinita.
Eis a razão de minha surpresa. Uma frase simples, com 3 pallavras centrais (mundo, feito, para) conseguiu romper a barreira da polarização para receber reações desprovidas de viés político, e sem as usuais espadas e escudos, as pessoas responderam imunes ao sentimento “beligerante”.
Pode parecer uma bobagem, mas isso me mostra que há esperança. Se o mundo contemporâneo estimula a divergência e a polêmica, na simplicidade dos sentimentos a tendência é de convergência. Você pode ter muito mais em comum do que imagina com a pessoa a quem dirigiu palavras não muito gentis pelo FB, por causa de motivos banais.
Compartilho aqui algumas das respostas que brotaram espontâneamente na ‘timeline’. “O mundo foi feito para….”
… Evoluirmos espiritualmente
… Beber cerveja
… Cuidarmos dele para que possa ser duradouro, habitado e saúdavel
…Sermos felizes
…Realizar sonhos e curtir momentos simples como a raça de vinho que degusto agora
… Viver da melhor maneira possível, de acordo com seus gostos e sua consciência
… Todos
… Corinthianos
… Quem tem garra
… Desfrutarmos cada momento, como se não houvesse amanhã
… Gerar vida
… Viver, ser feliz e respeitar as diferenças
… Comer e não engordar, perder e não sofrer, viajar e não gastar
… Ver a seleção alviverde amanhã se tornar a melhor da América
… Postar e sair correndo
… Cair na estrada
… Comer chocolate até dar alergia
… Viver é não ter a vergonha de ser feliz
… Sonhar, projetar, lutar e conseguir
… Viajar, viver e amar
… Respeitar tudo que nele existe
… Ir à praia
… Expeeimentar
… Tretar
… Beber cerveja e comer torresmo
… Andar de bicicleta e comer paçoquinha
… Ter paz
