Foi uma semana quente nas redes sociais, com a jornalista Rachel Sherazade, do SBT, mais uma vez protagonizando um Fla x Flu entre duas alas cada vez mais distantes da sociedade brasileira, aqueles que são a favor e os que são contra. A definição é genérica assim mesmo, pois as expressões ‘contra ’ e ‘a favor’ são aplicadas a qualquer tema, conforme seu interlocutor deseje. ‘Contra’ um suposto julgamento político do Mensalão, ‘a favor’ da prisãos dos corruptos petistas, e por aí vai. A corda do cabo de guerra está cada vez mais distendida, não tarda ela roerá…a batalha da hora está associada a uma declaração da jornalista ao defender publicamente os justiceiros que amarraram um menor criminoso nu, atado a um poste, no Rio de Janeiro.
Sherazade costuma desagradar a petistas e defensores do governo por seu posicionamento notadamente conservador. Mesmo sem querer, talvez seja uma das mais contundentes vozes da oposição no Brasil. Por conta disso, é ferozmente alvejada por seus detratores e defendida com o mesmo vigor por seus simpatizantes.
Sou partidário radical da liberdade de expressão. A jornalista tem o direito sagrado de emitir sua opinião, gostem dela ou não. Apesar de muitos setores ditos ‘progressistas’ (em aspas, para simbolizar minha ironia) sonharem com o controle da mídia, a imprensa livre é uma das maiores conquistas democráticas do Brasil. Felizmente, não estamos em uma Venezuela, Argentina, Cuba, China ou Rússia, onde as pessoas tem dificuldade de se manifestar contra o ‘status quo’. Quem me acompanha sabe da minha ojeriza em relação ao governo atual, mas mesmo em minhas relações sociais convivo com pessoas que pensam diferente; até leio publicações que não gosto para entender a lógica por trás do seu posicionamento, por mais que discorde dele. Tivesse a Sherazade convicções opostas às que defende, receberia aplausos do grupo que hoje a defenestra. Deixem a moça falar! Se não gostou, não leia, mude de canal, ignore. Eu não acompanho o Paulo Henrique Amorim, nem por isso saio por aí pedindo a cassação do seu direito de escrever, por mais que eu o considere um legítimo blogueiro ‘chapa-branca’.
Vivemos em um tempo onde todos podem emitir sua opinião e a mesma se tornará pública, ganhará a nuvem e circulará por dezenas, centenas ou milhares de tablets, smartphones, computadores. Gente que jamais conheceremos podem ter acesso ao que pensamos ou dizemos. Esse é um cenário paradisíaco para os mau entendidos, ‘mea culpas’, e para o acirramento de rivalidades. É mais fácil perder a compostura quando você não está diante do seu interlocutor. A máxima: ‘Não faça aos outros aquilo que você não gostaria que fizessem contigo’ poderia ser adaptada à realidade das redes sociais da seguinte maneira: ‘não escreva o que você não falaria caso estivesse diante das pessoas com interesse no assunto’.
Exemplos para isso não faltam: a própria Sherazade foi alvo de uma atitute estúpida de um ativista do ‘lado oposto’, que manifestou no FB seu desejo de vê-la estuprada em 2014. Semana passada, uma professora universitária postou a foto de alguém com camisa regata e tomando cerveja no infernal calor carioca do aeroporto Santos Dummont. Ela ironizou a cena, questionando se o local não teria se convertido em rodoviária. Em ambos os casos, os ‘narradores’, absolutamente infelizes em seus manifestos, ganharam notoriedade midiática e foram obrigados a se retratar rapidamente. Sequer pensariam em falar as baboseiras que escreveram caso estivessem frente a frente com alvo de suas declarações.
O acesso ilimitado à informação e às opiniões pessoais é uma realidade. Ainda não nos acostumamos a isso, mas precisamos saber conviver com aqueles que pensam diferente. O mundo nunca será homogêneo, monocromático. Quando vejo o acirramento das posições ideológicas ganhar contornos de briga de torcida, me preocupo. Como torcedor, vou ao estádio torcer pelo meu time e até para tirar ‘onda’ com o adversário, ganhar (ou perder) uns almoços, mas jamais consideraria a hipótese de ir às vias de fato por conta disso, atitude associada a animais irracionais.
Estamos flertando com essa situação no universo virtual. Espero que o inevitável Fla x Flu brasileiro de 2014 seja apenas um jogo de futebol com muitos gols, sem descambar para a bárbarie e que a plena liberdade de expressão seja uma conquista indevassável da nossa sociedade.
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Victor Loyola
Os textos refletem minha opinião pessoal sobre qualquer assunto, não há nenhum tipo de vinculo com corporações, grupos, ou comunidades. Comentários são extremamente bem-vindos. Me esforçarei ao máximo para fazê-lo um hobby permanente. No segundo tempo de minha vida, está definido que continuarei escrevendo. Se eu parar, de repente é por que eu surtei ou houve algum apagão de criatividade. Essa versão do blog está turbinada – é para ser mais agradável e acessível ao leitor. Há até um espaço para enquetes, uma maneira bem-humorada para encarar o mundo. Boa leitura!!!!!