O nado borboleta, plasticamente o mais bonito da natação e também o mais cansativo, foi inventado pelo australiano Sydney Cavill, treinador de natação em São Franscisco (California), em 1932 e adotado em 1933 pelo americano Henry Myers em uma competição do nado peito. Nesse momento, a pernada ainda não era de ‘golfinho’. Em 1934, outro treinador, David Armbruster, refinou o método, trazendo os braços juntos acima da água, sem contrariar as regras do nado peito, que tornava-se muito mais rápido com a adoção dessa prática. Em 1935 Jack Sieg aperfeiçoou a pernada, tornando-a parecida à de um golfinho. Até 1936, todos os nadadores que adotaram a variação de estilo foram desqualificados em suas competições. Em 1938, a maioria dos nadadores estava utilizando no peito as técnicas do nado borboleta. O novo estilo foi oficializado como modalidade à parte em 1952 e adotado pela primeira vez nas Olimpíadas em 1956.
O brasileiro João Vitor de Oliveira protagonizou uma cena inusitada na eliminatória dos 110 metros com barreiras: finalizou a prova com um mergulho no ar em direção à linha de chegada, um peixinho -no jargão futebolístico – e obteve a classificação para semifinais por causa desse lance, atingindo também o melhor tempo de sua vida. Autor dessa manobra em outras ocasiões, ele já chegou a quebrar uma vértebra e o pé por causa dela e não se arrependeu nem um pouco da ousadia: ‘Sabe Deus quando terei essa chance novamente’, disse ele.
Shaunase Miler, atleta de Bahamas, venceu a final dos 400 metros femininos com 7 milésimos à frente da segunda colocada, a norte americana Allyson Felix, impulsionada por um peixinho à la João Vitor, no último instante da prova. Não fosse por isso, teria obtido a medalha de prata.
Todos são exemplos típicos de inovação, onde a prática usual foi substituída por uma completa novidade. Uma disrupção, termo do mundo corporativo para designar grandes transformações. Há os que podem se perguntar: mas isso é moralmente correto?
E por que não seria? No primeiro exemplo, não havia definição sobre onde o alinhamento dos braços no nado peito deveria ser feito. Sob a água, o movimento dos braços em ambas as técnicas eram iguais. Encontrou-se, dentro das regras até então em voga, uma maneira muito mais veloz de nadar. No caso do atletismo, a regra define que o vencedor é quem ultrapassar a linha de chegada com o tronco e não diz nada a respeito sobre os pés estarem pisando o chão. O peixinho, portanto, é absolutamente legítimo. Em provas onde centésimos de segundo fazem a diferença entre o céu e o inferno, utilizá-lo pode ser essencial.
A inovação do nado borboleta resultou em uma nova modalidade. Melhor para a natação, que ganhou mais diversidade de estilos. Não me surpreenderia se outros exemplos de ‘peixinho’ ocorram no atletismo, definindo provas. Talvez haja polêmica, pois nem todo mundo está disposto a se jogar no cimento e sob essa alegação a Federação de Atletismo poderia até proibir a manobra, alegando zelar pela integridade física dos atletas. Vamos aguardar o desenrolar dos fatos.
De qualquer maneira, todos os exemplos acima mostram que a inovação não precisa ser algo completamente diferente para causar grandes mudanças. Muitas vezes, detalhes mínimos em um processo ou no modo de pensar são transformadores e proporcionam enormes ganhos de produtividade ou eficiência, tanto no mundo onde centésimos fazem a diferença, quanto naquele onde vivemos o dia a dia.
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Victor Loyola
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