Enfim, o ano

Acabou o Carnaval. A grande festa popular teve momentos pitorescos: polêmicas sobre fantasias permitidas pela onda ensandecida do politicamente correto, a mesma que gera os Bolsonaros da vida, escola de samba que não respeita as leis trabalhistas criticando a reforma sobre o mesmo tema, ‘celebridades’ disputando o título de quem causa mais; normalmente para esse objetivo, quanto menos roupa, melhor, um rastro de toneladas de lixo após a passagem dos blocos, um tsunami de gente pelas ruas das principais cidades carnavalescas do país. E não podemos esquecer da mídia, falada e escrita, inebriada pela folia, em seu período de menor criatividade. Enfim, começa o ano no sul do mundo, já em meados em Fevereiro.

Ele nascerá com o enterro da reforma da Previdência, abacaxi que ficará para o próximo presidente(a) negociar com o novo Congresso, já que o atual não chamou a responsabilidade para si. Aliás, possivelmente um dos eventos mais importantes do ano será a eleição para as duas casas legislativas, 100% da Câmara e 2/3 do Senado. Geralmente, o índice de renovação gira entre 35-40%, insuficiente para mudanças significativas no Brasil. Quanto maior ele for, melhor. Será que os eleitores terão o discernimento para remover as ratazanas de Brasília? O PMDB continuará dando as cartas no Congresso? Reelegeremos políticos envolvidos em crimes de corrupção e agarrados ao cargo pelo benefício do foro privilegiado?

Falando nele, será que o ministro Dias Toffoli, ex-advogado do PT, desengavetará o processo que revisa sua amplitude, reduzindo-o para crimes cometidos no mandato corrente? A votação já estava decidida por 7×0 quando ele, vergonhosamente, pediu vista. Subterfúgio muito usado no STF, essa corte que tanto nos envergonha, quando quer ‘embarrigar’ uma decisão.

A corte Suprema estará mais uma vez sob holofotes. Para começar, decidirá o destino do grande chefe dos esquemas de corrupção: primeiro sobre a cadeia, depois sobre sua candidatura. Essa última, uma barbada, já que condenados em segunda instância não podem concorrer em eleições. Mas nada é impossível em se tratando de STF, que já rasgou a Constituição por ocasião do impeachment da mais inepta, através de seu então presidente a Ricardo Lewandowski, permitindo que a diva das frases confusas não perdesse seus direitos políticos. O mesmo tribunal que reinterpretou sua decisão tomada para o caso Eduardo Cunha no momento em que ela pesaria sobre Aécio Neves. E que solta presos condenados em segunda instância, dependendo do ministro que avalie o caso, desrespeitando decisão já tomada pelo seu plenário. É a famosa ‘casa da mãe Joana’, que tomará decisões fundamentais para o futuro do país.

Quantos presos o ministro Gilmar Mendes soltará esse ano? Como ele se sente ao ouvir um áudio vazado onde um corrupto afirma que pode até ser preso por um tempo, mas a putaria tem que continuar? Aos bandidos, o benefício da dúvida, sempre. Desde que seja um criminoso de colarinho branco. O STF terá que enfrentar em definitivo a questão da prisão em segunda instância, pesadelo dos corruptos e dos advogados criminalistas, que recebem milhões para postergar um caso até sua prescrição. Falando nisso, um processo contra Romero Jucá prescreveu esse ano, após transitar 14 anos no STF, cinco deles na gaveta do gabinete do Ministro Gilmar, sempre ele. Será que esse ano o Supremo terá a decência de julgar algum caso de político envolvido na Lavajato? Difícil…

Entre Junho e Julho, teremos Copa do Mundo, com a seleção de Tite supostamente pronta para limpar o nome sujo deixado pelo Brasil em 2014. Será que o país vai parar? Logo após seu término, teremos as convenções partidárias e começará para valer a corrida eleitoral. A dúvida é se teremos uma campanha de tão baixo nível quanto foi a de 2014. Temas relevantes serão debatidos ou vamos empurrá-los para debaixo do tapete? Quem assumirá o pior emprego do Brasil, o de governador do estado do Rio de Janeiro?

O ano começou hoje, mas passará voando. Em um piscar de olhos, estaremos em 2019. Tomara que o Carnaval do ano que vem não seja a ressaca de um 2018 indigesto.

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