A inusitada final da Copa de 2014

Final da Copa de 2014, Maracanã lotado. No duelo derradeiro, o inédito confronto Brasil x Argentina. Intervalo de jogo. O Brasil vence por 1×0, gol de cabeça de Dedé, melhor zagueiro do Planeta Terra. A Argentina foi superior, acertou duas bolas na trave e perdeu um pênalti. Mas, no futebol, nem sempre vence o melhor.

No vestiário celeste, confusão. Oito jogadores argentinos são acometidos por uma fortíssima dor de barriga. O preparador de goleiros aventou a hipótese de que seria efeito da ‘feijuca’ do dia anterior, imediatamente aceita pelo médico. ‘Les aconsejé a no comer la ‘feijoada’. Es un plato muy fuerte!’, dizia o médico em voz alta. O treinador mal ouvia, pois também passava mal, suava frio e tinha tremedeiras. Permanecia imóvel, pois todas as cabines estavam ocupadas. Qualquer movimento em falso, se borraria.

Durante a sinfonia dolorosa e barulhenta do ‘piriri’ coletivo, os jogadores perceberam que não havia papel higiênico em nenhum ‘toillete’. ‘No hay papel, no hay papel’, entoavam os hermanos em coro uníssono. O chefe da delegação revoltou-se: ‘Como no hay papel, no es posible!’. Indignado, solicitou ao treinador de goleiros que encontrasse papel e trouxesse urgentemente ao vestiário. Olhou para o canto e viu seu treinador se contorcendo de dor. ‘A essa altura, está cagado’, pensou ele.

Era uma crise. A seleção argentina, depois de campanha impecável, com seis vitórias em seis jogos, 20 gols marcados e apenas 2 sofridos, encontrava-se no intervalo da final com praticamente todo o time compadecendo no vaso sanitário e seu treinador borrado no canto do vestiário. Inusitado. E agora essa de faltar papel! Só podia ser uma conspiração brasileira. O sangue lhe subiu à cabeça, pensou em ligar para o Blatter, mas preferiu esperar.

Passaram-se 10 minutos e nada de papel. Vaias começaram a ser ouvidas das arquibancadas. Onde estava a seleção argentina, que não voltava a campo? Os jogadores, já aliviados, mas ainda trancafiados nas cabines, gritavam em algazarra: ‘Donde está el papel!!!! Precisamos nos limpiar!!!!’. Foi então que o treinador de goleiros retornou ao vestiário desconsolado: ‘No encontré papel!’. ‘Como!!!! No es posible!! És una conspiración de FIFA contra Argentina!’, exclamou histéricamente o chefe da delegação.

‘Pero encontré unas ediciones viejas del diário Olé’, disse o treinador de goleiro. Se adequadamente racionada, o time poderia dividir o jornal e dar conta do recado. ‘No me limpiaré con el periódico’, era a voz de Messi, um dos desafortunados. Dois jogadores aceitaram o diário ‘Olé’. Outros seis, entre eles o Messi, recusaram a solução, muito frugal.

O chefe da delegação foi enfático quando o árbitro apareceu na porta do vestiário, solicitando ao time que voltasse a campo: ‘Cagados, no volveremos!’. O árbitro pôs-se a rir. Cada vez mais irritado, tomou uma decisão impulsiva, que marcaria para sempre a história das Copas: ‘Vamos al autobus! No volveremos al campo. No jugaremos cagados!’. Ordenou a todos os jogadores que abandonassem suas cabines, e que resistissem ao desconforto da meia hora seguinte, pois no hotel esperava que houvesse fartura de papel…

O pobre treinador, largado no canto do vestiário, não tinha forças para levantar. E se o fizesse, seria um um vexame maior. Foi para o chuveiro, não havia outra alternativa. Depois disso, de sopetão, toda a delegação argentina partiu sorrateiramente para fora do estádio, onde o motorista do ônibus já os aguardava para levá-los ao hotel Copacabana Palace. Alguns caminharam até lá a passos de tartaruga e com as pernas semi-abertas, para que o estrago não se ampliasse. Assim, pela primeira vez na história das Copas do Mundo, uma equipe abandonou o jogo no intervalo.  Cagados e derrotados.

Questionado se teria sido a decisão correta, o chefe da delegação foi enfático: ‘Brasil nos faltó con respecto cuando no pusieron papel en los baños. Por eso, no volvimos. Tampoco podríamos jugar cagados!’.

O Brasil foi declarado hexa campeão mundial, e o placar da partida foi ratificado como 1×0, seguido de abandono da Argentina. Foi uma vitória estranha, mas valeu!

 

Ps* Esse breve e  irônico texto é uma homenagem ao pseudo-time do Tigre, que envergonhou o futebol argentino ao fugir da final de um torneio internacional durante o intervalo. Vai que faltou papel no Morumbi? É uma hipótese…

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