Ocaso do PT, resistência do petismo

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Não nasci anti-petista. Até votei no PT em algumas ocasiões no milênio passado e acompanhei com simpatia cautelosa a sua ascensão ao poder em 2003. À época, julgava inocentemente, como muitos, que ao menos no aspecto ético eles tinham algo de novo a oferecer. Não tardou para que a realidade me desmentisse, o escândalo do mensalão foi um tapa na cara de todos aqueles que um dia pensaram como eu.

Aí veio a reeleição, em 2006, contra uma oposição fajuta e desunida que não soube se posicionar diante da propaganda de um governo que começava a surfar na bonança econômica mundial. Mal sabíamos que naquele momento estava sendo instalado o maior esquema de aparelhamento do estado e corrupção que se tem notícia. Posteriormente, seduzido pelo bom e efêmero resultado das ações anti-cíclicas de 2008/09, o governo petista converteu-se ao populismo barato e iniciou o período de gastança desenfreada que nos tirou da rota do crescimento sustentável.

Foi um tempo em que o governo federal deitou-se em berço esplêndido e preguiçosamente omitiu-se em travar as árduas batalhas de tantas reformas estruturais que o Brasil precisa. Basta olhar para nossos indicadores de educação, produtividade, saúde, previdência, ambiente de negócios. Perdemos uma oportunidade histórica para implementar transformações extremamente necessárias em um país ainda carente de quase tudo.

Eis que 2010 nos reservou um crescimento de 7.5%, efeito de um ano anterior medíocre e represado pela crise internacional, lançando às alturas a popularidade do velho Molusco, que obteve então o direito de escolher o seu sucessor. No caso, um poste. O partido se encarregou de criar uma narrativa marqueteira, consagrando a então desconhecida Dilma Roussef como a gerentona, mãe do PAC, nossa futura dama de ferro. Mal sabíamos que já nessa época os tentáculos do maior esquema de corrupção da história estavam bem posicionados há tempos por todos os cantos da administração pública. O clube das empreiteiras corruptoras distribuía propinas milionárias aos poderosos em troca de obras superfaturadas e sanguessugas minavam lenta e continuamente a outrora maior empresa do país.

A falsa gerentona, politicamente de cintura dura e pessoalmente intratável, sucumbiu aos seus dogmas ideológicos no campo econômico, destruiu por vontade própria e em definitivo os pilares da economia que sustentaram o governo Lula, colocando o Brasil no caminho do abismo. Demorou, pois em economia nada se muda de imediato. Não foi por falta de aviso de vários especialistas no assunto. Seu primeiro mandato foi muito ruim, mas ainda assim manteve os níveis de emprego em patamares razoáveis, influenciados pelo efeito residual de uma economia global que ajudava e os preços das commodities ainda em alta, fundamental para sua reeleição. Sabemos hoje que muitos indicadores foram maquiados. A campanha eleitoral de 2014 foi repleta de mentiras, como nunca se viu, e ocultou do brasileiro a real situação das finanças públicas. O país estava quebrado, mas vendia-se a ilusão do paraíso. O mago e hoje presidiário João Santana criou o mundo da fantasia. O brasileiro médio, com menos de 7 anos de estudo, caiu nessa conversa fiada. Por uma margem ínfima, mas caiu. E foi bom, pois isso proporcionou o acerto de contas com o destino, que veio rapidamente.

A nossa confusa presidente não governou durante o segundo mandato, e passou todo período lutando pela sua sobrevivência política. Nocauteada pelos fatos, sem apoio no Congresso, extremamente impopular, cercada de incompetência, atordoada pela pior recessão da história e engolida pelo maior esquema de corrupção, seu governo caiu de podre.

Ex-guerrilheira, ela não desiste. O PT mais uma vez criou uma narrativa de ficção, a conversa do golpe, na qual caem os mais e os menos inocentes. A Lavajato, última esperança do Brasil, escancara as tripas de um governo falido, generoso distribuidor de propinas a aliados insaciáveis. É possível que todas as peças do tabuleiro do jogo político de Brasília venham a cair, dos peões ao rei. Mas, nesse momento, está caída a falsa gerentona, o ex-quase santo e hoje jararaca e o partido que um dia gabava-se de ser o baluarte da ética. Alguém imagina a ex-presidente subindo a rampa do Planalto para reassumir o cargo? Seria uma tragédia sem precedentes. O que ela faria na cadeira? Daria continuidade à sua obra inacabada? Felizmente, essa é uma possibilidade remota.

Olhemos para o legado do petismo: desperdiçamos 13 anos. Houve inclusão social? Sim, quando sobra dinheiro no caixa é fácil fazê-lo. Outros teriam feito. Ocorreu em todos os países pobres e fornecedores de commodities do planeta. Restaram as várias narrativas falaciosas, muita propaganda, um estado aparelhado, ineficiente e intervencionista, os mais diversos factóides, uma corrupção insana e uma decepção gigantesca.

Será o fim do PT? Talvez. Mas não do petismo. Ele sobreviverá, por que no fundo o brasileiro adora o estado babá e não se sente à vontade na frieza da racionalidade, é imediatista e não está disposto a se sacrificar por um longo prazo mais promissor. Sabe lá o que teremos pela frente…boa sorte a todos nós.

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