Reflexões ‘covidianas’ II – Uma guerra em curso

A pandemia virou a vida nas corporações de cabeça para baixo. Empresas tiveram que aprender a operar seus negócios remotamente, em tempo recorde. E fizeram.

Espaços físicos, antes tão disputados nos ambientes de trabalho, foram convertidos em supérfluos. Para que toda essa metragem, afinal?

Viagens de todos os tipos agora compõem uma linha de despesas que será radicalmente confrontada pela tesoura. Por que viajar, se tudo pode ser resolvido de bermuda, chinelo e camiseta, de dentro da sua casa?

Sabe aquela mania comum no Brasil de falar todo mundo ao mesmo tempo em uma reunião? Em vídeo não funciona. Disciplinados na marra.

E a conversa de transformação digital? Pois a pandemia trouxe a hora da verdade para todos. Os ‘transformados’ tiveram que colocar o discurso à prova.

Infelizmente, muitos ficarão pelo caminho. E na maioria das vezes pelo azar de ser atingido por um ‘cisne negro’ na hora errada. Aos felizardos, a certeza de que o mundo corporativo jamais será o mesmo no pós corona vírus.

Mas para encarar esse novo mundo, é preciso sobreviver. Somente em Março e Abril foram fechados 1.1 milhões de postos de trabalho formais, ainda sem contar o efeito do mês Maio, o mais intenso da pandemia. Por trás desse aumento dramático do desemprego, há milhares de empresas à míngua, que fecharão suas portas ou se endividarão até à beira da falência.

Sem falar nos autônomos e informais, quase todos impactados por uma intensa diminuição de renda gerada pela menor mobilidade urbana e falta de aglomerações. Pouco se comenta da pandemia econômica que nos aguarda e seus efeitos serão tão devastadores quanto em um pós guerra. Há analistas falando em queda de 10% no PIB para esse ano e não existe convergência sobre a velocidade de recuperação, se em ‘U’ ou ‘W’. Em outras palavras, 2020 foi para a lata do lixo e 2021 ainda é incerto.

Muitos esperam, com certa razão, o apoio do estado nessa hora de desamparo, mas vamos lembrar que sua capacidade de ajuda é limitada, ainda mais em se tratando de um país cujas contas estavam em más condições, como é o caso do Brasil. Não podemos esquecer também que Estados vivem da arrecadação de impostos, que por sua vez estão diretamente correlacionadas à atividade econômica, que despencou…

A maioria de nós conheceu os efeitos de uma guerra pelos livros de história, particularmente no Brasil jamais vivenciamos essa situação de perto. O Corona vírus nos proporcionará a experiência de enfrentarmos seus efeitos, sem entrar no campo de batalha, nem mobilizar as forças armadas.

É o que se verá nos próximos meses, com a dor mais aguda em todos os negócios que de alguma maneira necessitem de tráfego de pessoas ou aglomerações para prosperar, pois mesmo quando sairmos da toca, ambas situações serão retomadas muito gradualmente. Mas o estrago é generalizado, pois indiretamente afeta toda uma cadeia de fornecedores e prestadores de serviço.

São tempos difíceis, ninguém sairá ileso. A esperança é que tal qual ocorreu em outros momentos dramáticos da história da humanidade, eles foram superados. A receita é viver a dor do momento e fazer o melhor para que amanhã seja mais suave. Um dia a menos para o final da crise…

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