Racionalizando o cenário eleitoral

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Estamos a menos de duas semanas do primeiro turno, e o Ibope liberou hoje mais uma rodada de pesquisas eleitorais, indicando empate técnico entre Dilma x Marina no segundo turno (41 x 41), com a presidente ampliando a vantagem no primeiro para nove pontos (38 x 29). Aécio aparece em terceiro lugar (19) e a essa altura é possível cravar que ele  é carta fora do baralho para o embate final, a menos que ocorra uma improvável reviravolta.  Nesse momento, os números para o primeiro turno servem apenas como aperitivo para o segundo. Algumas constatações que podem passar desapercebidas aos torcedores mais fanáticos:

Após desfrutar de mais de um mês do seu latifundiário tempo de TV, Dilma praticamente não saiu do lugar. Segue na casa de 38% no primeiro turno e sobe muito pouco,  para 41-42% no segundo. Sua altíssima rejeição contribui para isso. Há um contingente razoável de eleitores que vota no capeta, mas não vota em Dilma. Para ganhar a eleição, ela terá que mudar de patamar, algo que até o momento não se materializou.

De tanto apanhar, a candidatura Marina desidratou bastante. Segue, porém, em patamar semelhante ao que estava na segunda pesquisa após a tragédia com Eduardo Campos. Em outras palavras, a campanha de desconstrução serviu até o momento para recolocá-la em seu ponto de partida, que já era bem razoável. Ela permanece com uma rejeição estável e muito inferior à principal adversária, fator extremamente importante em um cenário de disputa acirrada de segundo turno. Também mantém uma vantagem confortável em relação a Aécio Neves no primeiro. É essencial para Marina partir em 06/10 em situação de empate técnico com Dilma, pois o período que antecede a votação será de apenas três semanas.

imageÉ interessante observar que a queda de Marina nas intenções de voto para o segundo turno não resultou na subida de Dilma. Outra informação relevante é o fato de que diferentemente das outras pesquisas, onde a intenção de voto no segundo turno para a pessebista era muito próxima da soma das suas  com as de Aécio no primeiro, nessa última pesquisa isso não aconteceu. No primeiro turno, ambos somados chegam a 46%. No segundo, Marina atingiu somente 41%. Em outras palavras, os ataques promovidos pelo mineiro machucaram mais sua candidatura que a agressiva campanha do medo promovida pelo PT.

A esperança dos marineiros, legítima, é que esses votos retornarão no segundo turno, onde aqueles que mudaram de ideia se veriam diante da situação de escolher entre o ruim e o péssimo. Para o candidato, o voto não vem acompanhado de ‘rating’. Tanto o torcedor fanático quanto o cético desconfiado contam igual. E aí a rejeição pode decidir.

Quanto a Aécio, no íntimo já deve saber que não tem mais chance, mas fica chato reconhecer isso em público. Deveria se preocupar em ter uma votação razoável, preferencialmente superior a 20%, para manter algum capital político, e reverter a situação em Minas, onde seu candidato, o já ultrapassado Pimenta da Veiga, caminha para ser derrotado em definitivo no primeiro turno por Fernando Pimentel, do PT. Seria um fiasco de proporções épicas que comprometeria o futuro do senador mineiro, que perderia espaço interno no PSDB para os seus colegas paulistas.

Falando em São Paulo, será curioso observar como se comportará o tucanato paulista em relação à Marina no segundo turno, e qual será a recíproca. Ela não permitiu associar sua imagem a de Geraldo Alckmin nessa fase da campanha, mas terá que  incorporar o insosso sabor de chuchu na sua dieta em Outubro. A eleição pode ser decidida na diferença de votos conquistada na Paulicéia e Marina não pode se dar ao luxo de empinar o nariz para o campeão local de votos…

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Cartas na mesa, difícil determinar uma favorita, principalmente quando a política torna-se uma filial do marketing, tal qual ela é hoje. Se é verdade que Dilma não terá mais a vantagem do latifundiário tempo de TV, também não sabemos se Marina saberá utilizá-lo em escala cinco vezes maior. A alta rejeição à Dilma e a recorrência de más notícias, experimentadas por todos no dia a dia, são fartas munições para uma eventual campanha vitoriosa de Marina, que por sua vez, precisa evitar uma desidratação maior nos próximos dez dias e aprender a costurar algumas alianças antes indesejáveis para o segundo turno, cooptando o PSDB.

O tempo esclarecerá as dúvidas, mas inevitavelmente presenciaremos a campanha mais disputada desde 1989…

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