Pesadelo, seu nome é 2015

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No futuro, o ano de 2015 será marcado como um filme de terror que nos assombrou incessantemente. Hoje, seu desfecho ainda é desconhecido…

Um senador e ex-presidente banido é acusado de receber R$ 20 milhões em propina e sua coleção de carrões de fazer inveja a qualquer trilhardário é confiscada pela polícia. Outro ex-presidente, o boquirroto ‘inventor do Brasil’ e ‘padrinho’ de criaturas que nos aterrorizam será investigado pelo Ministério Público por suspeita de tráfico de influência internacional, talvez um pecado ínfimo se comparado à herança maldita que ele nos deixou. Executivos de alto escalão e poderosos empreiteiros estão presos por envolvimento no maior escândalo de corrupção da história do Brasil, com R$ 6 bilhões desviados formalmente reconhecidos pela Petrobrás, antes gigante e hoje quase moribunda estatal de petróleo, vampirizada ao longo de todo período de ouro da era petista por políticos bandidos, funcionários e empresários corruptos de todas as espécies. Os alicerces da República tremem com as revelações de vinte delatores, na mais consistente tentativa de moralização de nossa história, perpetrada pela operação Lava-jato, esperança de uma maioria silenciosa e indignada.

O ex-homem forte do ex-presidente boquirroto, hoje um ex-presidiário condenado por corrupção, após ter conseguido a façanha de receber uma fábula por serviços de consultoria enquanto estava na Papuda, teme ser preso pela segunda vez a qualquer momento, e tenta em vão obter um ‘habeas-corpus’ preventivo que lhe permita continuar desfrutando da tranquilidade de seu lar. Mais de cinquenta políticos estão indiciados por envolvimento no Petrolão, dentre eles o presidente da Câmara, acusado de receber um agrado de R$ 5 milhões e o do Senado, padrinho de personagens suspeitíssimos dessa história de terror. O presidente do PT, talvez sob efeito de alguma alucinação, diz que seu partido não é governo. Faltou explicar o que é então e colocar a culpa no FHC. Senadores receosos estão com medo da polícia. O Tribunal de Contas da União, órgão assessor do Congresso Nacional, historicamente um fantoche dos governos que nomeia seus ministros, está prestes a rejeitar as contas do primeiro mandato da criatura e enviar seu parecer à Câmara. Nunca antes na história desse país. O TSE ouvirá o testemunho de Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, homem-bomba e usuário de tornozeleira da Polícia Federal. Ele tem sérias acusações sobre financiamento ilegal da campanha de Dona Dilma, proveniente de dinheiro sujo das picaretagens petrolíferas. Difícil crer em uma atitude radical do Tribunal, mas se as evidências forem inquestionáveis, não lhe restaria outra alternativa.

Como desgraça pouca é bobagem, o desempenho da economia é comparável ao do Vascão no campeonato brasileiro, a cada semana uma nova humilhação, um indicador degradante. A colheita de uma gestão desastrada e repleta de decisões equivocadas é uma provação que nos remete ao fim da década de 80, quando o então presidente Sarney se arrastava para terminar seu mandato. A diferença nesse caso é que o atual governo-zumbi ainda tem três anos e meio de estrada pela frente. Seu Ministro da Fazenda, um dos poucos nomes críveis da equipe de 39 peladeiros da técnica Pinóquia, é bombardeado pelos próprios aliados, suas reformas são cortadas ou vetadas por um Congresso chantagista e hostil, fica no ar a sensação de que a qualquer momento ele pedirá o boné. E se perdermos o fiador da previsibilidade, guardião do grau de investimento brasileiro? Com a inflação rondando os dois dígitos, desemprego a 8%, PIB caindo 2% e previsão de um 2016 ainda negativo, não há humor que aguente. Alguns desinformados sugerem que a culpa é do arrocho fiscal. Santa ignorância. Com ou sem aperto, estaríamos no mesmo brejo, para onde fomos levados pela ‘incompetência’ da dupla de comediantes ‘Dilmantega’.

A presidente perde-se em discursos sem sentido saudando a mandioca e as mulheres-sapiens, chora ao homenagear a caudilha e companheira Kirchner, cuja capacidade de gestão é comparável à sua, convoca uma entrevista à imprensa onde coloca o ‘impeachment’ no centro do debate, irrita-se com seu criador, sem dispensar seus conselhos, precisa gastar a lábia para convencer importantes assessores a permanecer no governo. Tal qual a guerrilheira que foi no passado, seu objetivo é resistir. Mas se questionada sobre a razão da resistência, é possível que silencie. O Brasil está sob a batuta de um governo cujo principal objetivo é permanecer de joelhos, sem cair. Levantar já não é opção. Caminhar, nem se fala.

Desafortunados que somos, não temos nem a felicidade de encontrar na oposição lideranças que nos inspirem. Ora medrosos, ora omissos, ora oportunistas, e quase sempre sem proposições que nos ofereçam alternativas, surfam na péssima fase do governo. Esperam pelo futuro sem semeá-lo. Façamos um giro pelos governos estaduais e iremos perceber que estamos em um ‘mato sem cachorro’. As perspectivas não são promissoras.

Como sapos inertes em água fervente, presenciamos a brutalização da sociedade que assiste passiva a quase 60.000 assassinatos anuais (dos quais menos de 10% terão solução) e um número da mesma ordem de grandeza em mortes no trânsito. Até no futebol, em outros tempos válvula de escape e motivo de orgulho nacional, estamos nos acostumando a humilhações. Obras superfaturadas e atrasadas se espalham por todo país, a burocracia nos persegue, a educação não melhora, daqui a pouco falta água, volta e meia falta luz. Seiscentos mil empregos desapareceram no Brasil em 12 meses e está cada vez mais comum encontrar pessoas em fase de recolocação. Há em média quase um processo judicial para cada habitante brasileiro em trâmite na Justiça, que muitas vezes tarda e falha.

Sempre podia ser pior, poderíamos ser uma Grécia, uma Venezuela, uma Argentina. Que sorte por ainda não termos chegado lá. Que azar por estarmos aliviados com tal comparação. O pior é saber que esse pesadelo não é obra do acaso, mas fruto de nossas próprias escolhas e de nosso comportamento histórico. Individualmente, somos um povo bacana. Coletivamente, deixamos muito a desejar.

Chega. Felizmente é sábado, dia de feijoada. Nem tudo está perdido…

2 Comments
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2 Comentários

  1. Márcia

    18 de julho de 2015 em 16:43

    Victor, sobrevivemos ao ano 2000 quando, desde criança eu ouvia que o mundo ia
    acabar. Novamente sobrevivemos ao 21.12.2012 por igual motivo …certamente sairemos dessa, mesmo que com sequelas disso tudo. E amanhã é domingo, dia da macarronada!

  2. sonia pedrosa

    19 de julho de 2015 em 10:37

    Victor, o melhor é pensar pela ótica espírita… o que fizemos para precisar passar por tudo isso? O que precisamos aprender com tudo isso?
    Qual é o nosso Karma? Quem fomos nós nas vidas passadas? Nazistas? Jogamos pedra da cruz?

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