Pensamentos imperfeitos: entre a esperança e o pessimismo

Imerso em uma crise que nos parece infinita, gerada pela incompetência do petismo, personalizada na figura mentirosa de Dona Pinóquia, o Brasil debate-se na areia movediça em que se embrenhou por conta própria. Não há sinal de alívio, a esperança é uma palavra apagada de nosso dicionário, por ora.

Devidamente deposta por um processo constitucional que seguiu todos os ritos e lhe permitiu defender-se ao longo de oito longos meses, nossa diva de vermelho e discurso confuso faz parte de um passado que a história contará em estilo de tragicomédia, tão grandes foram as trapalhadas ao longo de cinco anos de governo.

Substituída pelo até então vice decorativo, contestado desde o primeiro momento por fazer parte de uma comunidade oportunista e parasitária, o bom e velho PMDB, partido seduzido desde sempre pelas benesses do poder, dona Pinóquia recebeu um presente do destino: não estaria mais a cargo do Brasil, e a desgraça que nos aguardava, com o tempo seria dissociada de sua administração catastrófica, já que as pessoas nesse Brazilzão ignorante e com sete anos de estudo (na média) tendem a associar suas mazelas ao momento presente.

O novo presidente cercado de figuras suspeitíssimas, envolvidas desde o primeiro dia com a administração petista, ensaiou um governo reformista e tambêm por isso mais impopular, uma vez que as mudanças na agenda econômica suprimem privilégios de uma minoria ruidosa e organizada. Seus três antecessores, ainda surfando a onda de boa popularidade, bem que tentaram executá-las, mas terminaram com uma obra inacabada no meio do caminho. Quem disse que é fácil corrigir as distorcões que beneficiam “castas superiores”? É tarefa árdua, ainda mais para quem pisa em ovos.

Eis que o governo tampão deixa transparecer sua podridão em conversas gravadas com um dos grandes corruptores do Brasil, beneficiado com o perdão magnânimo de nossa Justiça a partir de uma delação ultrapremiada, que supostamente tem muito a dizer sobre o comportamento imoral de quase 2.000 políticos, entre eles os últimos três presidentes da república, senadores, deputados, governadores. Difícil encontrar alguém do meio que não tenha participado da festa.

Gravado em circunstâncias constrangedoras e demonstrando um comportamento vergonhoso e ilegal, o ex vice decorativo tornou-se um presidente também decorativo. Liderando um governo zumbi, rejeita a renúncia, agarra-se ao apoio do presidente da câmara para evitar um processo de impeachment, e pretende valer-se das várias artimanhas judiciais para procrastinar o julgamento da cassação da sua chapa, que no momento lhe parece desfavorável pelo placar de 5×2. Não larga o osso, certamente influenciado pelo desespero próprio e de assessores próximos com medo de perder o foro privilegiado e consequentemente responder ao juiz Sérgio Moro. Mesmo moribundo e ferido de morte lenta, o governo anuncia a sua resistência, tal qual fez sua antecessora. Quem sofre com essa situação é o país.

Em paralelo, o sistema acuado e apodrecido, trama contra a operação Lavajato, seu grande pesadelo nos últimos três anos. Agora que estão praticamente todos no mesmo barco, enlameados em denúncias e gravações, protegidos por laranjas, trusts e contas clandestinas mundo afora, nada mais natural aos que eram antagonistas em outros tempos, juntarem-se em um sorrateiro conluio para enfraquecer a força tarefa, com o único objetivo de manter o status quo. Esse sistema possui tentáculos em vários segmentos da economia e do estado, abrange praticamente todos os partidos e milhares de políticos, visceralmente conectados aos seus corruptores. É o Brasil velho, injusto, patrimonialista, adepto do capitalismo de compadre, que resiste vigorosamente contra as investidas de um novo tempo.

Ele se manifesta nas palavras sujismundas de um senador esfomeado por ‘ajudas de custo’ milionárias, pedinte profissional, suposto ex-líder de uma oposição frouxa e vacilante ou na retórica canalha de um ministro do STF que anuncia mudar de ideia sobre a decisão de prisão na segunda instância, talvez o maior avanço institucional no combate a corrupção desde 1500 e que pode morrer ainda em sua infância, proporcionando o retorno da impunidade eterna dos poderosos.

O Brasil velho está nas frases carregadas de propina ditas sem a menor cerimônia pelos grandes corruptores do planeta, que agora desfrutam de liberdade perene no Brasil ou na terra do Tio Sam, curtindo a riqueza proporcionada por empréstimos baratinhos subsidiados pelos nossos impostos. É um tal de milhões para lá e para cá, malas forradas de dinheiro, intermediários correndo na rua, favores, consciências compradas sem qualquer escrúpulo. Faz parte do jogo dos compadres.

O Brasil velho também se apresenta na forma de baderneiros que depredam patrimônio público, sob a desculpa de derrubar um governo corrupto, porém não menos que o anterior que eles apoiavam e para quem silenciavam diante das barbaridades cometidas dia sim, e outro também. Os arruaceiros entendem que os fins justificam os meios, um argumento tambem utilizado pelos terroristas do estado islâmico, cujo objetivo de destruir a civilização ocidental passa por matar algumas centenas de inocentes aqui e acolá. Mas os fins não justificam os meios?

Ah, esse Brasil velho, tão bem representado pelo chefão da quadrilha, o bravateiro criador do ‘nós x eles’, encantador de burros, encrencado com a Justiça em vários processos, candidato a presidente e presidiário, que nada fez e nada sabe, perseguido pelas ‘zelites’ e que carrega em seu passado a eleicão de uma das piores presidentes da história da humanidade e a concepção de um plano de poder que encaixou-se perfeitamente ao presidencialismo de coalisão e ao capitalismo de compadre: juntou a fome com a vontade de comer. Elegeu campeões nacionais que tornaram-se organizações multibilionárias e que em troca proveram propina às centenas de ‘sanguessugas’ espalhados pelo país, às custas de obras superfaturadas e muitas vezes, inacabadas.

O que dizer do presidiário ex-governador carioca, outrora cantado em prosa e verso como um político moderno, e hoje qualificado como o maior corrupto da história nacional, fazendo ruborizar seu homônimo descobridor dessas paragens. Se era para ser assim, poderia nunca ter aparecido por aqui – os índios teriam feito muito melhor.

O mais grave é que mesmo após todos os escândalos, as prisões, as condenações, provas, evidências de corrupção, e enriquecimento ilícito de centenas de bandidos, o sistema permanece cometendo crimes, e ainda há gente graúda que tenta de tudo para acobertá-los e proteger seus autores. Há gente inocente ou mal intencionada que defende seus bandidos de estimação e há ainda gente conformada, que pouco se importa com a bandalheira que os cerca.

Há também os inconformados que oscilam entre a esperança e o pessimimo, grupo em que me enquadro, para os quais o noticiário brasileiro do dia a dia causa ansiedade, mal estar e irritação. Essa canalhada pode estar plantando doenças em nossas mentes e corpos, já que o estado de indignação permanente seguramente não faz bem à saúde.

Qual a alternativa? Contentar-se com o fato de que há uma melhora gradual e um amadurecimento contínuo do país e que daqui a 60-80 anos o Brasil estará em outro patamar? Eu não estarei nesse plano para assistir meus netos e bisnetos vivenciarem esse júbilo, e sinceramente gostaria de experimentar um lugar civilizado ainda nessa vida. Mas há fortes indícios de que isso não vai acontecer.

Emigrar? Eis uma solução possível; deixar essa esbórnia. A vida de imigrante não necessariamente e fácil e nem sempre a logística familiar facilita a execução de um plano desses. Porém, devo ser sincero em afirmar que meu desejo pessoal é que meus filhos construam sua jornada fora daqui e meus esforços profissionais se concentram em garantir que eu possa lhes proporcionar essa opção.

Jogar a toalha e simplesmente desconectar das notícias desse Brasil onde o crime compensa? Certamente seria uma vida mais saudável, mas haja desprendimento. Bem que eu gostaria, mas não consigo. A ideia de ser vegetariano me agrada, mas como carne quase todos os dias….assim como a ideia de desconectar-me…

Bem, resta-nos então pelejar. Gritar, denunciar, influenciar, inconformar-se, fazer do pedaço do Brasil em que você vive um lugar decente. Não permitir que furem a fila, que lhe passem para trás, que se cometam pequenos crimes à sua frente, ser intolerante com a bandalheira. E na hora da eleição, livrar-se do bando de abutres que fazem do estado brasileiro a sua carniça. Dou nome aos infelizes: Lulas, Dilmas, Aécios, Renans, Sarneys, Temers, Jucás, Lindbergs, Gleisys, Dirceus, Geraldos, Graziottins, Cunhas, Pimentéis, Falcões, Serras, FHCs, Palloccis, Richas, Cabrais, Pezões, Paes, Eunícios, Moreiras, Jacques, Padilhas, Geddeis, Delcidios, Guidos, Mercadantes, JECs, Gilmares, Lewandoskys, Toffolis, Marco Aurelios e tantos outros; sumam! Desapareçam! O Brasil que vocês fizeram, com o apoio da população, fracassou. Calem-se. Caiam fora, façam algo de bom pelo país que vocês levaram para o brejo.

E você, que está lendo esse texto: não se iluda com a conversa fiada dessa turma, não se deixe levar pelos falsos salvadores da pátria, refute a mesmice. De fato, somos ‘nós x eles’ e temos a maioria, por enquanto silenciosa e conformada. Ainda há tempo…

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