Antes de começar a ler, saiba que esse texto é uma obra de ficção repleta de ironias
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– Fernando, esse é o nosso último encontro. Não vamos mais nos ver. Não venha mais aqui.
– Mas, mestre, ainda tenho tanto a aprender e muito a lhe servir!
– Fernando, já lhe passei tudo que podia. Agora você deve caminhar com as próprias pernas.
– Mas, mestre, a última vez que isso aconteceu fui enxotado da prefeitura de São Paulo, não lembra? Não sei se consigo…
– Fernando, a partir de agora eu sou radioativo. Você deve dissociar sua imagem da minha.
– Mestre, passamos dois meses dizendo que você era eu e eu era você. Éramos o Luladdad. Não dá para desmentir essa história. E se eu não sou mais você, quem sou eu?
– Fernando, não me contrarie, sempre disse que você era o petista com mais cara de tucano que existia. Você agora será um social democrata.
– Mestre, sem querer ser chato, mas os tucanos tiveram menos de 5% dos votos, ter cara de tucano a essa altura só atrapalha.
– Pqp, Fernando, você está me irritando. Vai lá e corre atrás de apoio. Puxe o saco do FHC, quem sabe ele não vem para o nosso lado. Comece a falar de segurança pública também, esse assunto está dando voto.
– E o Ciro, mestre?
– Esse aí é cachorro que late e não morde. Se ele fizer doce, diz que dá um ministério para ele e prometa apoiá-lo em 2022.
– Sério, mestre, você está mesmo disposto a fazer isso?
– É óbvio que não, seu tolinho. Você só vai prometer. Ele vai acreditar. Na hora H, nós puxamos o tapete dele.
– Mas será que ele cai nessa conversa, mestre?
– Ele sempre cai, Fernando. Paga de espertalhão, mas é mais bobinho que você. Vou mandar um bilhete para ele, isso vai lhe ajudar.
– Mestre, hoje tenho entrevista no JN. O que devo dizer?
– Eu sei o que você não deve dizer, não mencione meu nome.
– Mas, mestre…!
– Fernando, já te falei!!! Preciso desenhar??? Você terá que me esconder nesse segundo turno, está entendido?
– Mestre, impossível te esconder. Todos sabem que você está na cadeia. Injustamente.
– Outra piada dessa e te expulso do partido, Fernando. E por falar em cadeia, nada de dar entrevista na porta da cadeia quando sair daqui. Vá para um hotel.
– Ok, mestre, entendi. Mas ainda estou inseguro, como farei a campanha sem você!??
– Se vira, Fernandinho. Peça ajuda à Gleisi. Agora você vai me dar licença, que tenho agenda cheia hoje. Logo mais irei preparar com o Zanin mais um plano infalível para sair daqui.
– Mais um mestre? Será que vai dar certo?
– Se não der, você tem que ganhar essa bagaça e me conceder o indulto.
– Claro, mestre. Fique tranquilo.
– Vou querer uma sala com vista para a praça dos três poderes, lá no quarto andar. Mas antes, você manda reformar e trocar a mobília.
– Seu desejo será sempre uma ordem, mestre.
– Fernando, não esqueça: saindo daqui você é um social democrata, finja que não me conhece. Pode até me chamar de ladrão.
– Ladrão, mestre??? Não é demais? Nunca admitimos nada, me desculpe discordar do senhor, mas acho ladrão um exagero..
– Ok, Fernando. É meio forte, ladrão. Diz que eu cometi alguns erros. Ou melhor, diz que o PT cometeu alguns erros, coloca a culpa no sistema, no PSDB.
– Mestre, o PSDB já era, não tem mais ninguém para culpar?
– Coloque a culpa no Moro…pensando bem, melhor não. Essa conversa não deu certo. Faz o seguinte, esquece esse negócio de admitir erros, não admita nada. Se a coisa complicar, coloque toda culpa na Dilma.
– Na Dilma, mestre?
– Sim, na Dilma. Aquela anta não prestou nem para se eleger senadora, se a coisa apertar, culpa toda é dela. Ah…se arrependimento matasse…
– Mas mestre, ela vai querer me esfolar vivo…
– Se vira, Fernando. Diz para ela tentar vereadora daqui a dois anos…tanto trabalho que essa mulher me deu..
– Ok, mestre. Não te conheço, sou um social democrata, vou puxar o saco do FHC, dar um ministério para o Ciro, falar de segurança e se o caldo engrossar, coloco a culpa na Dilma. Mais alguma recomendação?
– Não, Fernando. Ganhe essa eleição para mim e reforme a sala que eu quero no palácio. Nos falamos em Dezembro!
– Obrigado, mestre. Até mais!
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Victor Loyola
Os textos refletem minha opinião pessoal sobre qualquer assunto, não há nenhum tipo de vinculo com corporações, grupos, ou comunidades. Comentários são extremamente bem-vindos. Me esforçarei ao máximo para fazê-lo um hobby permanente. No segundo tempo de minha vida, está definido que continuarei escrevendo. Se eu parar, de repente é por que eu surtei ou houve algum apagão de criatividade. Essa versão do blog está turbinada – é para ser mais agradável e acessível ao leitor. Há até um espaço para enquetes, uma maneira bem-humorada para encarar o mundo. Boa leitura!!!!!