Semana passada, em um desses programas da Rede Globo, onde artistas são chamados para comentar atualidades, uma cidadã comum, já na terceira idade, de semblante sereno, fala mansa e educada, transformou-se em um dos maiores tópicos das redes sociais: Dona Regina.
O assunto, já batido, e para o qual não colocarei mais lenha na fogueira, era a tal exposição do MAM, onde uma criança foi estimulada pela mãe a interagir com um homem nú. Estavam três atores ferrenhamente a defender a exposição e a performance ‘delicada’ do artista, desdenhando de quem não gostou, quando um repórter do programa trouxe a figura de Dona Regina, presente ao pequeno auditório, indicando que ela, ao contrário da maioria que ali falava, tinha ideias opostas. Convidada a dar sua opinião, essa senhora o fez de maneira clara e simples, enfatizando que seu desconforto era com a presença da criança interagindo com um homem pelado, nada contra a nudez em si.
Pontos de vistas diferentes, e o que se espera de uma suposta intelectualidade é que no mínimo valorize o contraditório, certo?
Errado. Pela fisionomia de uma das atrizes, cujo nome eu não sei, percebe-se claramente como se comportam os globalistas com quem ousa discordar de sua agenda: chamada pelo repórter para replicar o argumento de Dona Regina, ela verbalizou um ‘sem comentários’, escondendo um certo desprezo por quem pensa diferente, manifesto em seu semblante ‘raivoso contido’. Não estivessem na TV e fosse Dona Regina alguém mais jovem, não surpreenderia se a nossa ‘intelectual’ partisse para a agressão verbal, através da palavra ‘fascista’ (comumente mal utilizada) e outras ‘delicadezas’.
O repórter, meio sem jeito, e aparentemente com vontade de cortar o áudio, inadvertidamente concedeu à senhora mais uma frase, que inapelável, resumiu em duas palavras o sentimento de muitos brasileiros não aderentes ao globalismo: ‘Mas…e a criança?’
Esses parcos minutos foram suficientes para elevar Dona Regina à categoria de celebridade da hora nas redes sociais, que podem até ter todos os defeitos que seus detratores lhes atribuem, mas ao menos uma virtude: a independência. Como já foi escrito aqui em outro artigo (O poder transformador das redes sociais), a grande massa de anônimos tem agora o direito de se manifestar como quiser e não precisa seguir os estereótipos definidos pelos controladores das grandes mídias.
O exemplo de Dona Regina foi marcante. Ela não é jornalista, atriz, ou intelectual que bate ponto nos programas de auditório. Uma senhora brasileira, provavelmente com nível educacional acima da média nacional (de 7,8 anos de estudo) e com opinião própria a respeito de um fato do cotidiano que lhe causou indignação. Se fosse um homem de meia idade a proferir a mesma opinião, certamente seria taxado de fascista, machista, troglodita e outros termos. Não houve voz para se elevar contra Dona Regina, por se tratar de uma simpática senhora representante da terceira idade. Mas não se surpreendam se em breve surgirem dossiês contra ela, estampados em alguma manchete do ‘UOL’. Os globalistas não perdoam quem não se alinha com eles.
Eu particularmente quase não assisto aos programas de TV aberta, exceto um ou outro noticiário, e dou a mínima para opinião de artistas sobre temas de maior profundidade, a menos que provem entender do assunto. Enquanto comentaristas do cotidiano, a opinião de um artista ou intelectual vale tanto quanto a da Dona Regina.
A manifestação dos anônimos prospera sem se guiar pela pauta da grande mídia. Eis uma grande novidade, pois não muito tempo atrás isso era impossível. No fundo, somos todos Dona Regina, para o desespero dos mestres em manipulação de massas.
Esse é um mundo novo ainda desconhecido, mas causa ojeriza a quem antes detinha o monopólio da comunicação. Apesar da incerteza sobre as consequências dessa nova realidade, ninguém poderá contestar sua legitimidade. Dizia-se que no futuro, todos teriam quinze minutos de fama. Hoje, ela já não é necessária, os anônimos agora tem voz.
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Victor Loyola
Os textos refletem minha opinião pessoal sobre qualquer assunto, não há nenhum tipo de vinculo com corporações, grupos, ou comunidades. Comentários são extremamente bem-vindos. Me esforçarei ao máximo para fazê-lo um hobby permanente. No segundo tempo de minha vida, está definido que continuarei escrevendo. Se eu parar, de repente é por que eu surtei ou houve algum apagão de criatividade. Essa versão do blog está turbinada – é para ser mais agradável e acessível ao leitor. Há até um espaço para enquetes, uma maneira bem-humorada para encarar o mundo. Boa leitura!!!!!
5 Comentários
Evandro
8 de outubro de 2017 em 16:26Excelente texto, Victor! Somos todos Dona Regina. Grande abraço!
Rogerio
8 de outubro de 2017 em 16:54Muito bom texto. Tenho opinião formada sobre o assunto, mas ouço opiniões contrárias que, de tempo em tempo, me fazem repensar ou aperfeiçoar meu pensamento. Infelizmente tenho visto muito debate que só apresenta um ângulo.
Victor
8 de outubro de 2017 em 17:47Rogerio, obrigado pelo comentário. Infelizmente, proliferam situações em que não há espaço para quem discorda, o que é uma pena. Dona Regina calou os globais e representa a voz dos anônimos…
Silvio De Angelis
9 de outubro de 2017 em 19:28Ótimo texto, Victor. Dona Regina, com suas próprias palavras nos traz de volta algo muito raro nos debates recentes: bom senso!
CARLOS
30 de outubro de 2017 em 10:34#CHUPAGLOBO