Matemática das eleições: a esperança da oposição

image

A matemática da última pesquisa eleitoral divulgada ontem pelo Datafolha pode animar a oposição. Apesar do quadro geral na simulação de primeiro turno permanecer estável, com Dilma oscilando para baixo na margem de erro, assim como Campos, a simulação de segundo turno indica uma subida relevante dos principais candidatos de oposição, chegando a colocar pela primeira vez Dilma e Aécio no limite de tolerância para empate técnico (44 x 40%).

A boa Copa do mundo e o fiasco inimaginável da seleção brasileira não alteraram o cenário. Nenhum candidato parece ter sido beneficiado ou prejudicado por esses eventos. Para a simulação de primeiro turno, Dilma empata com a somatória de todos os outros candidatos. Já é a terceira pesquisa seguida em que essa situação permanece relativamente estável. Isso não deixa de ser uma boa notícia para o governo, pois apesar da queda gradual em sua aprovação, um cenário de vitória no primeiro turno ainda é possível.

O desafio da oposição nesse momento é descolar em definitivo desse quadro de empate técnico entre haver ou não segundo turno. Os candidatos estacionaram no patamar em que se encontram há três pesquisas sucessivas. Apesar da queda de Dilma para um nível que normalmente não confere ao líder a possibilidade de vitória no primeiro turno, os seus 36% ainda lhe proporcionam essa possibilidade, o que significa que muita gente não está satisfeita com as alternativas atuais e ainda não se decidiu. E se tivessem que fazê-lo hoje, como se definiriam?

imageÉ aí que entra a simulação de segundo turno e sua matemática de esperança para a oposição. Dilma com 36% e Aécio com 20%, quando colocados frente a frente na simulação de segundo turno, somam 44% e 40% respectivamente. A presidente sobe 8 e o senador mineiro 20%. Com Eduardo Campos, a situação é semelhante: Dilma sobe 9 e o ex-governador pernambucano 19%. No caso do confronto PT x PSDB, dos 28 pontos percentuais distribuídos a ambos entre a simulação de primeiro e segundo turno, o tucano tem quase 71% da preferência. Em outras palavras, de cada dez eleitores que não declararam preferência por Dilma ou Aécio no primeiro turno, entre os que fizeram essa opção em um cenário de segundo turno, sete migram para Aécio e três para Dilma. A matemática é quase a mesma no caso de um confronto Dilma x Campos.

Isso mostra uma tendência pró-oposição na definição dos cenários dos indecisos do primeiro turno, o que poderia em um futuro próximo levar a um descolamento entre o total da preferência de Dilma e dos demais. À medida que a campanha se intensificar, é provável que se estabeleça a certeza do segundo turno. Sob essa hipótese, se Aécio mantivesse a mesma proporção de preferência entre os 16% que não se decidiram nesse confronto (7 para 3, lembrando que ambos somam 84%), ele passaria a ter a maioria. Eis uma situação outrora impensável, hoje uma possibilidade.

Essa é a lógica fria dos números, mas a realidade também é influenciada por outros fatores, muitos deles imponderáveis. O governo conta com o efeito do seu latifundiário tempo de TV para recuperar votos. Deve concentrar esforços em converter esses 8% adicionais que recebe no segundo turno já para o primeiro. Se tivesse os 44% de intenção, a chance de liquidar a fatura de primeira aumentaria consideravelmente. Não adianta ´martelar´ a campanha junto aos eleitores que rejeitam Dilma (35%, índice alto) ou naqueles fortemente inclinados a votar na oposição. A chave do sucesso estaria primeiramente na conversão dos ´simpáticos à Dilma´. É nesse segmento que o quase monopólio do tempo TV pode ser útil. A contrapartida a essa esperança é de que a realidade será cruel com o governo até as eleições. Não há no horizonte nenhuma boa notícia que possa reverter o cenário atual. Exatamente por isso, a estratégia será fortemente concentrada em mostrar os últimos 12 anos de gestão petista. Trata-se de um argumento frágil, já que o governo Lula e suas conquistas sociais se encerraram há 4 anos, e o atual deixa a desejar. Essa avaliação é uma realidade inclusive entre quadros governistas. No fundo, Dilma pedirá ao eleitor mais uma chance, mostrando a ele uma carta de fiança obtida com o sucesso da gestão de seu antecessor. Em 2010, ela era uma ministra desconhecida de um governo de sucesso. Hoje, ela é uma presidente conhecida de uma gestão mal avaliada, que ainda vive do rescaldo das ´glórias do passado´. Está mais difícil.

image

Outro cenário favorável ao governo seria uma arrancada de Eduardo Campos a ponto de ameaçar ao segundo lugar da candidatura tucana. Por enquanto, está longe da realidade. O pernambucano ainda se vale de um índice de rejeição muito baixo e a chance de catalisar os votos da vice, Marina Silva. É sua bala de prata para fugir do estereótipo do terceiro colocado que faz figuração, situação que já foi experimentada por Ciro Gomes, Anthony Garotinho e pela própria Marina, todos coadjuvantes de luxo. É um grande desafio e o pouco tempo de TV não parece reforçar o sonho pessebista. Se fosse o caso, uma consequência natural seria o fim do clima de cordialidade entre Campos e Aécio, o que poderia colaborar para o aumento de rejeição do tucano, aliviando a pressão em um eventual segundo turno.

Aécio, por sua vez, tem motivos para estar esperançoso. Detém somente metade da rejeição de Dilma, ainda não é de todo conhecido nacionalmente e está empatado com a presidente no Sudeste/Sul, regiões que se bem exploradas, podem lhe proporcionar uma boa dianteira. Não está na conta a possível transferência de votos de Geraldo Alckmin, favoritíssimo a levar no primeiro turno em São Paulo, hoje com mais de 50% das intenções. Em pleitos passados, o PSDB não se ajudou e protagonizou uma verdadeira autofagia, com seus principais caciques se boicotando uns aos outros. Esse seria o primeiro pedido de um petista para o ´gênio da lâmpada´: que os tucanos continuem empinando o bico para os de sua espécie, como sempre fizeram no período pós-FHC. Uma possível desunião ao redor da candidatura presidencial comprometeria a sua viabilidade. A princípio, os ´grãos-duques´ do tucanato estão alinhados, se toleram. Ainda não sabemos se essa sintonia persistirá até Outubro.

image

Certamente é frustrante para o PT encarar uma eleição que desponta como a mais acirrada desde 1989, diante da possibilidade de reeleição, que normalmente ocorre sem sobressaltos para governantes de plantão com desempenho regular. Após 12 anos desfrutando do poder, o desgaste natural começa a cobrar a fatura. Adicione-se a isso uma gestão tida como insatisfatória mesmo dentro das hostes petistas. Ainda não está descartada a possibilidade do ´volta Lula´, materializável até a 20 dias da eleição. Seria uma estratégia de altíssimo risco, e também não é totalmente certo que o ex-presidente deseje colocar sua biografia na prateleira para novas experiências. Bobo ele não é, sabe que os próximos dois anos serão bastante complicados, qualquer que seja o mandatário do Palácio do Planalto.

Resta a certeza de uma disputa ferrenha e provavelmente repleta de golpes baixos. Será a primeira eleição majoritária com a presença massiva das redes sociais. Em 2010, elas não eram tão presentes no cotidiano das pessoas quanto hoje. Sua influência nas eleições ainda é uma incógnita. De qualquer maneira, desde 2002 a oposição nunca esteve tão esperançosa. Os números justificam esse clima de otimismo, mas o caminho até o sonhado desfecho ainda é longo, cheio de obstáculos e espinhos. O cenário está aberto.

0 Comments
0

Deixe uma resposta

Send this to a friend