Lavajato: um perigo a ‘temer’

O fragilizado governo de Dona Pinóquia tentou conter a Lavajato como pode. Impopular, sem apoio no Congresso, pouco conseguiu fazer além dos esforços em vão para sobreviver em meio a um processo de impeachment fortemente suportado pelas ruas. A tentativa de nomear o nobilíssimo Jararaca para a Casa Civil, a nomeação de um ministro da Justiça claramente contrário à Lavajato, que felizmente durou pouco no cargo, as tentativas do trapalhão Mercadante de comprar o silêncio de Delcídio do Amaral, são todos atos infrutíferos de um governo desesperado para manter-se vivo. Nada deu certo, o impedimento aconteceu e a ex-mandatária seguiu rumo ao ostracismo.

O novo governo do ex-aliado e vice Michel Temer assumiu diante de suspeições de que abafaria a operação, que expandia seus tentáculos muito além da companheirada petista e assombrava a todos que de alguma forma desfrutaram do poder nos últimos 10 anos. Sob juras de que nada faria de anti republicano, o novo presidente nomeou suspeitos que um a um caíram por causa de situações constrangedoras com a Justiça.

Incapaz de salvar a pele do aliado de todas as horas, Eduardo Cunha, ex- poderoso presidente da Câmara, cassado e posteriormente preso, o governo foi perdendo gradualmente a batalha contra a Lavajato, até que se abriram algumas janelas de oportunidade.

O recesso parlamentar e do Judiciário, o estranho e inesperado acidente que causou a morte do ministro Teori Szavaski, as eleições para as presidências da Câmara e do Senado, que deram ao governo crédito com os novos presidentes das casas e a possibilidade de escolher nomes estratégicos para as Comissões mais importantes, possibilitaram um sorrateiro ataque de bastidores visando o enfraquecimento da Operação, em curso. Um ministro do STF leal ao presidente e o novo titular da pasta da Justiça indicado pelo PMDB de Calheiros são sinais de alerta máximo.

A quem interessa a continuidade da Lavajato no mesmo ritmo intenso? Somente à população. Quase todos os partidos e políticos gostariam imensamente de jogar o causo para baixo do tapete e sob a promessa de que tudo será diferente, oferecer ao Brasil um novo começo. Anistias, esquecimento. ‘Vamos todos tomar remédio para esquecer as maracutaias dessa gente’. O comportamento da ‘boiada’ definirá o futuro. Se a população permanecer com sua tradicional indiferença e não demonstrar indignação contra as tramóias que se proliferam nas sombras do Congresso, do Palácio do Planalto e do STF, tudo pode ir por água abaixo.

Nesse aspecto, o governo de Michel Temer é muito mais perigoso que de sua antecessora. Apesar de impopular, conferiu racionalidade à política econômica e com isso conquistou o imobilismo de alguns setores da sociedade, antes exasperados com a economia em frangalhos. É o pensamento: ‘está ruim, mas poderia ser pior’. Também tem amplo domínio sobre o Congresso, com interesse convergente em atrapalhar as investigações. Se não fosse pouco, transita com mais discrição e habilidade no STF. Lá, conta com amigos e a simpatia dos ministros próximos ao petismo. Um acordão para poupar a todos não seria surpresa.

Por isso, urge a vigilância máxima. A Lavajato nunca esteve tão ameaçada e a população precisa estar preparada para voltar às ruas. Ao final do ano passado, esse movimento foi tímido. Se persistir pouco intenso, a corrupção mais uma vez triunfará. Os defensores do ‘status-quo’ não se entregarão sem lutar. Todo cuidado é pouco.

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