O incêndio que devastou o Museu Nacional nesse final de semana no Rio de Janeiro foi muito triste, mas nada surpreendente. Surpresa seria receber a notícia de que um Louvre, um British Museum ou um Metropolitan arderam em chamas. Mas no Brasil, que nunca se notabilizou por preservar suas memórias, lamentavelmente esse é um evento previsível.
O Museu, que já foi residência da família imperial e está localizado no parque da Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, poderia ser uma das principais atrações turísticas da cidade, mas estava a ‘Deus dará’ há muitos anos. Mal conservado, com parcos e cada vez mais minguantes recursos, nem hidrante funcionando tinha. Era o reflexo da decadência. Eu o frequentei bastante nas minhas férias de infância no Rio e recordo-me que era uma visita muito aguardada. Já na idade adulta, fui uma única vez e me decepcionei com seu estado de preservação, isso já há duas décadas. De lá para cá assumo que só tenha piorado.
Como era de se esperar, a tragédia tomou conta das primeiras páginas de jornais e sites de notícias, mensagens de lamentação ecoam por toda parte e a tradicional polarização que toma conta das redes sociais por ocasião de qualquer ‘blockbuster’ mais uma vez se fez presente: a culpa é desse ou daquele fulano, dessa ou daquela ideologia. Conversa inútil, já que ninguém, de qualquer espectro político, deu a mínima para a conservação desse museu, e não é de hoje. A mídia, no momento investigativa e indignada, até então nunca ou raramente havia destacado a lamentável situação em que se encontrava.
Não houvesse o incêndio, o Museu Nacional teria seguido sua trajetória rumo ao completo ostracismo, desamparado, sem orçamento, nem público digno de sua tradição. Lembremo-nos do incêndio que abateu o Museu da Língua Portuguesa, o Instituto Butantã, e o fechamento do Museu do Ipiranga em 2013, sob o risco de desnoronamento, e que permanecerá inacessível ao público até 2022. São capítulos da mesma história negligente. Se as entidades internacionais ou diplomatas que manifestaram solidariedade ao país soubessem do nosso descaso, talvez nem se dessem ao trabalho de transmitir qualquer mensagem.
A afirmação que segue talvez seja cruelmente sincera, mas a consternação coletiva durará somente até o feriado e será reestabelecida prontamente no próximo incêndio, que é apenas uma questão de tempo.
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Victor Loyola
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