Desrespeito: vergonha nossa

Nessa imensidade de listas de WhatsApp das quais todos fazem parte, é improvável não ter recebido o vídeo viralizado nos últimos dias, onde um grupo de torcedores brasileiros ridiculariza uma russa, que sem falar uma palavra em português, é incentivada entoar um coro com referências ao seu órgão sexual. Ao seu lado, às gargalhadas, os bobalhões a acompanhavam, fazendo a moça de palhaça.

Em um mundo onde o politicamente correto muita vezes ultrapassa a fronteira do bom senso, criando tempestades em copos de água, haverá os que dirão que tudo não passou de brincadeira, o que obviamente é um terrível erro de avaliação. É fácil checar, basta perguntar ao interlocutor como ele reagiria à uma situação idêntica ocorrendo com sua irmã ou mãe.

É o famoso teste da empatia, que funciona em qualquer ocasião. Nessa situação específica, além da demonstração rudimentar de machismo por marmanjos abobalhados, há claramente a falta de respeito com pessoas de boa vontade do país anfitrião.

Zombar de alguém que não conhece o idioma é uma prática tão antiga quanto insossa, equivale a ridicularizar a falta de visão de um cego, de audição de um surdo ou a dificuldade de locomoção de um cadeirante. Se a russa soubesse o que estava falando e consentisse a ‘brincadeira’, ela não seria desrespeitosa, mas continuaria sem nenhuma graça.

Soube que existe a versão feminina da mesma ‘pegadinha’ , onde um russo sofre o mesmo escárnio de brasileiras engraçadinhas. Não viralizou como o primeiro, talvez por que as mulheres sejam mais parcimoniosas no compartilhamento desse tipo de vídeo, mas merecería a mesma repercussão negativa

Os protagonistas do ‘evento’ vivenciam o inferno astral do mundo contemporâneo, não sem razão condenados pelo tribunal popular das mídias sociais, transbordando a censura para a imprensa e associações de classe. Bem feito. Um justo preço pelo mau comportamento.

Por outro lado, é sempre bom lembrar que a cultura brasileira é complacente com esse tipo de atitude, e não é de hoje. Basta ler algumas letras do ‘funk’, ritmo da moda e um dos preferidos da intelectualidade transgressora, ou frequentar os pancadões, para entender que esse comportamento bizarro é aceitável nesses ambientes. Há videoclipes de celebridades da hora que tampouco economizam na glorificação da ‘bunda’. Se os estímulos sexistas vêm de todos os lados, os efeitos colaterais não deviam surpreender.

Recordemos um presidiário popular da política brasileira, cultuado como semi Deus pela terça parte do eleitorado dessa terra, que fez referências às ‘mulheres de grelo duro’ como símbolo de tenacidade e não foi censurado por seus apoiadores. Não seria também um exemplo de comportamento que reforça estereótipo grosseiro do brasileiro?

Quando casos como esse se tornam símbolos de vergonha planetária é de se perguntar se não estimulamos o comportamento tosco em nossa própria casa. A resposta provavelmente será afirmativa. Somos um povo mal educado, que zomba de qualquer coisa, vaia o hino nacional alheio, ‘paga de malandro, mas no fundo é otário’. As recompensas por tantas ‘virtudes’ são experimentadas no cotidiano.
Resta-nos descobrir se até o final da Copa teremos mais exemplos didáticos como esse para mostrar por que ‘estamos onde estamos’ …

2 Comments
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2 Comentários

  1. SIMONE BARBOSA

    20 de junho de 2018 em 13:48

    É desapontador tomar conhecimento dessas atitudes. Não assisti o vídeo, me recusei. O que será das futuras gerações do nosso Brasil?

  2. SIMONE BARBOSA

    20 de junho de 2018 em 13:48

    É desapontador tomar conhecimento dessas atitudes.
    Não assisti o vídeo, me recusei.
    O que será das futuras gerações do nosso Brasil?

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