É cedo para tecer elogios ou críticas enfáticas a um governo que sequer começou. Nessa primeira semana da era pós-petista, tivemos bons e maus sinais, mas efetivamente há que se esperar pelo ano vindouro para começarmos a observar a nova máquina administrativa operando.
Os derrotados, ainda digerindo o resultado das urnas, espalham qualquer notícia que possa detratar o novo governo, não tarda tomaremos conhecimento do escândalo da ‘moça do café’ ou do ‘motorista do presidente’. No mundo das redes sociais, separar o joio do trigo é necessidade contínua para manutenção da sanidade. Mas alguns presságios já estão disponíveis e Jair Bolsonaro deveria ficar atento a eles.
Parece inevitável que o futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, entre em rota de colisão com o super ministro da economia, Paulo Guedes. Ambos já se desentenderam sobre a reforma da Previdência e certamente vão se estranhar em outras ocasiões. Não será uma situação inédita, mas é importante que o presidente tome as rédeas da situação, apaziguando conflitos e estabelecendo coesão nas ações. Divergências muitas vezes são saudáveis, desde que não sejam negligenciadas a ponto de se converterem em crises. Também será curioso observar a relação entre o super ministro Sérgio Moro e Lorenzoni, que confessou ter recebido R$ 100 mil em caixa dois para financiar sua campanha a deputado em 2014. A pauta de Moro será intensa e exigirá coordenação com o Congresso, algo completamente inédito para o futuro ex-juiz, que dependerá da ajuda do seu colega, ‘encaixador de trocados’ em passado não muito distante, prática usualmente condenada pelo magistrado paranaense. A cadeira de Onyx, diga-se de passagem, é tão essencial quanto inflamável. Já foi ocupada pelos condenados Dirceu e Palloci, além da ré Gleisi Hoffman.
Esses possíveis conflitos são gerenciáveis, mas há dois perigos maiores para a gestão do futuro presidente. São potenciais geradores de pequenos incêndios e consumidores de energia.
O primeiro deles é a possibilidade sempre iminente de alguma declaração infeliz de um dos ‘Bolsofilhos’, afeitos à digitação impulsiva nas redes sociais e que já causaram danos durante a campanha. Como sabemos, filhos não podem ser demitidos e a brincadeira da ‘vaca amarela’ tem efeito temporário. É uma questão de tempo até que um dê com a lingua nos dentes ou com os dedos no teclado e cause pequenas crises. O que não sabemos é qual seria a extensão do estrago. Menos mal se ficar apenas na retórica, mas é importante que o compromisso com a moderação seja reforçado nos almoços de Domingo da família Bolsonaro.
Outro perigo, com potencial mais devastador, atende pelo nome de Magno Malta. O senador capixaba engrossará a estatística dos desempregados a partir de Janeiro, pois perdeu a reeleição em seu estado, e tem se posicionado como futuro ministro da Família, junção das pastas do Desenvolvimento Social e Direitos Humanos. Minha impressão é que ele pode ser um grande incendiário da gestão Bolsonaro, causando ruídos desnecessários com pautas que nem de longe são prioritárias ao país.
Malta, é importante lembrar, já foi lulista e dilmista. Decepcionado com o PT, migrou para a oposição e foi responsável por alguns discursos memoráveis no periodo pré-impeachment, um senador combativo. Porém, suas maiores credenciais ao cargo de ministro são a ociosidade programada a partir do ano que vem e a amizade de longa data com o presidente eleito, a quem acompanhou na campanha, negligenciando a corrida estadual, dada como ganha e que acabou perdida. Fora isso, e desconsiderando o fato de ser um líder religioso, que não transforma ninguém em especialista em políticas sociais ou direitos humanos, não há sem seu histórico nada que o credencie para o cargo.
Caso cometa esse erro, Bolsonaro deverá preparar a roupa de bombeiro e um hidrante, pois os incêndios causados por Magno Malta serão inevitáveis. Eu faço analogia àqueles projetos na vida corporativa que consomem boa parte do seu tempo, trazem a maioria das suas dores de cabeça e praticamente nenhum benefício. Esse será o tal ministério da Família, se presidido por Magno Malta. Eis o caso onde é imprescindível chatear um amigo.
O presidente eleito terá que gerir com cuidado esses possíveis incendiários. Por ora, é o que se avista. Ainda faltam as indicações para pastas muito importantes como Educação, Saúde, Relações Exteriores e Agricultura. Aconselha-se a não colocar mais lenha na fogueira e manter a preferência por escolhas técnicas. Em breve, com a escalação completa em mãos, saberemos se haverá mais gente de carregando ‘querosene’ no time principal.
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Victor Loyola
Os textos refletem minha opinião pessoal sobre qualquer assunto, não há nenhum tipo de vinculo com corporações, grupos, ou comunidades. Comentários são extremamente bem-vindos. Me esforçarei ao máximo para fazê-lo um hobby permanente. No segundo tempo de minha vida, está definido que continuarei escrevendo. Se eu parar, de repente é por que eu surtei ou houve algum apagão de criatividade. Essa versão do blog está turbinada – é para ser mais agradável e acessível ao leitor. Há até um espaço para enquetes, uma maneira bem-humorada para encarar o mundo. Boa leitura!!!!!
3 Comentários
Sonia Maria Pedrosa Silva Cury
6 de novembro de 2018 em 11:16é verdade, com essa entourage, estamos sempre à espera de uma bomba, um incêndio… e a oposição, à caça de qualquer escorregão. Que os bons espíritos acompanhe, Bolsonaro. E que Deus nos proteja!
Grande abraço, Victor!
sonia
José Tosi
6 de novembro de 2018 em 17:02Victor,
Apenas acrescentaria que o desafio de se fazer um bom governo nesse proximo ciclo é imenso para qualquer um que fosse sentar naquela cadeira. Afinal a dependencia do Congresso é gigantesca e a renovação não foi tão grande assim, pois há boa parte dos que estão chegando que já exerceram papel legislativo e estão retomando agora. Articulação política continuará sendo fundamental.
Porém, o povo brasileiro precisa entender que a disposição de esquecer diferenças e focar no acompanhamento efetivo do Congresso e suas ações e omissões, representa a única massa de pressão que existe tanto para um lado (Jair Bolsonaro sendo democrata e buscando o melhor para o Brasil – uma possibilidade) quanto para o outro lado (Jair Bolsonaro sendo Jair Bolsonaro e exercendo a virulência e forçando a obediência “na marra” – outra possibilidade).
Para tanto, é necessário que cada lado da torcida (os eleitores ainda não encerraram o período eleitoral) parem de brincar com memes e “fake news” e encarem a realidade como ela é: Jair Bolsonaro é o Presidente do Brasil e nós precisamos que as ações de seu governo nos ajudem a evoluir em muitas pautas. Sempre atentos! Não apenas para demonstrar nosso descontentamento, mas, também, para expor apoios quando ações estiverem atendendo o propósito de entrarmos nos trilhos.
Somos um povo criativo que não consegue inovar……..é mole? Somos campeões em terceirizar a culpa! E acreditamos que as soluções estão na mão do pessoal do Governo.
Tá na hora de, por exemplo, dizer para o irmão, para a tia, para o amigo que a PREVIDENCIA precisa mudar. Que não dá mais para bancar tantas exceções às regras. Que não dá mais para garantir o disparate das aposentadorias dos funcionários públicos.
Tá na hora de aceitarmos que à maneira de cada um precisamos ser menos coniventes e mais determinados a mostrar nossa cara.
Victor
6 de novembro de 2018 em 22:26Concordo plenamente. E acrescentaria que vamos precisar romper com o gradualismo das mudanças, que normalmente leva tempo no Brasil. A urgência da situação fiscal não permite modificações marginais, precisamos de mudanças radicais e profundas. Você tem razão sobre o ‘falar sobre a reforma da Previdência’, trata-se de um processo educacional… Vou escrever sobre isso, eh urgentíssimo mesmo! Abs