Eleições 2018: uma limonada bem azeda

Começou a corrida eleitoral. As convenções partidárias se encerram até o dia 15 e os principais candidatos a presidente foram sabatinados na Globo news essa semana. Na prática, são cinco os que têm chances; Jair Bolsonaro, Marina Silva, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e o poste a ser designado por Lula. Outros dois com muita luta podem chegar a 5% dos votos; Álvaro Dias e Henrique Meirelles.

Particularmente eu não gosto do formato onde as eleições presidenciais coincidem com as demais, injustamente ofuscadas, mas tem sido assim desde 1994. O texto que segue também tem esse viés.

Bolsonaro segue favoritíssimo para chegar ao segundo turno. Possui disparado a maior intenção de voto espontânea, superando inclusive o presidiário. Veterano de sete mandatos na Câmara, expoente do baixo clero, é inexperiente na gestão pública, fato que reconhece publicamente. Notório por suas declarações polêmicas que o caracterizam como truculento, machista e homofóbico, recentemente adotou o ideário liberal, do qual nunca foi defensor, e anda com o renomado economista Paulo Guedes a tiracolo como seu posto Ipiranga. Posiciona-se como antipetista e uma história isenta de qualquer escândalo de corrupção corrobora para adotar o discurso de guardião da ética.

Conservador nos costumes, sem papas na língua, simplório na comunicação, fala diretamente com o eleitorado órfão de opções e cansado dos excessos do politicamente correto. Incomoda demais a imprensa esquerdista e globalista, e quanto mais é questionado sobre questões de comportamento, mais à vontade fica. Ouso dizer que a viabilidade de sua candidatura foi obra da obssessiva agenda politicamente correta que tomou conta da mídia nos últimos anos, provendo munição a candidatos como ele.

Terá uma campanha sem alianças, com pouco dinheiro e escassos segundos de TV, o que talvez lhe beneficie, pois evitará exposição nessa primeira fase. Está acima do ponto de corte para o segundo turno (que deve ficar próximo dos 15%) com alguma gordura, e mantido seu atual eleitorado fiel, deve chancelar sua vaga para a disputa em Novembro, quando terá um desafio mais difícil: lidar com sua alta taxa de rejeição.

Marina Silva também não terá tempo de TV e alianças relevantes, e com orçamento baixo, vale-se de alto ‘recall’ para começar a campanha bem posicionada, normalmente em segundo lugar e liderando todos os confrontos no segundo turno. Ao contrário do capitão, não tem alta intenção espontânea, o que faz com que muitos analistas apostem na desidratação de sua candidatura. É uma possibilidade, mas não podemos descartá-la como pustulante ao segundo turno, pois com o discurso moderado é capaz de angariar votos do centro e parte da esquerda pós impedimento oficial do presidiário. Contra si pesa o fato de já ser figurinha carimbada de duas eleições presidenciais e uma ausência relativamente prolongada durante os períodos não eleitorais, além da dificuldade em posicionar-se em temas polêmicos. A seu favor também está uma história de vida sem envolvimento com a corrupção e o apoio incondicional à moralização do país, que se nota pelo endosso contínuo à operação Lavajato. Consegue atrair economistas de renome ao redor de si e não será surpresa que apresente uma assessoria econômica de primeira linha, caso sua candidatura se mostre resiliente.

Geraldo Alckmin tem superado obstáculos operacionais para lançar suas candidatura, que desacreditada por muitos na sua concepção, inclusive por esse escriba, começa a ganhar musculatura. A primeira batalha foi convencer os correligionários do fraticida PSDB de que era o nome mais viável do partido, mesmo com um governo paulista apenas avaliado como regular e suspeitas de corrupção a furar por todos os lados o casco da embarcação tucana. Vencida essa etapa a duras penas, viu-se diante de intenções de voto raquíticas, ameaçando seu tradicional arco de alianças. Partidos coadjuvantes ensaiavam apoio a terceiros, chegamos a ouvir a desfaçatez de que o DEM se bandearia para Ciro Gomes, configurando uma aberração ideológica, mas ao final do processo, o picolé de chuchu arrebatou a todos. O Centrão está enfileirado com o tucano, e a amplitude da aliança é maior do que a obtida pela mais inepta nas eleições de 2014.

Com uma coligação repleta de personagens suspeitos, o palanque de Geraldo Alckmin pelo Brasil poderá ser bastante constrangedor. Para contrabalançar essa situação, a senadora Ana Amélia (PP/RS) assumiu a vaga de vice. Segundo um amigo meu, é uma gota de cloro no Tietê, mas certamente será muito útil à candidatura, que se valerá de um tempo latifundiário de TV para crescer, a partir do final desse mês. É a grande aposta de Geraldo.

Ciro Gomes já teve dias melhores. Há um mês era apontado como o maior beneficiário do espólio de Lula, flertava com o Centrão e moderava o discurso, com o objetivo de avançar também no eleitorado de centro e até à direita. Como sempre vítima de suas próprias declarações, andou chamando uma procuradora de ‘fdp’, fez pouco caso da Lavajato para agradar o eleitorado do grande chefe, e gradualmente minou o interesse dos partidos do Centrão, que preferiram fechar com Alckmin. Semana passada, perdeu o apoio do PSB, antes tido como certo, por influência de Lula, que da cadeia ainda reina absoluto sobre a esquerda brasileira. Está isolado e com pouco tempo de TV. Até então era mais uma promessa do que realidade e após essa rasteira é provável que nunca se materialize de fato. Resta saber qual o caminho será adotado pelo candidato traído e com histórico de destempero. Mesmo sem ganhar vaga no segundo turno, fará barulho e suas ações podem influenciar o rumo das eleições.

Provavelmente teremos Fernando Haddad como candidato do PT, o novo poste de Lula, o presidiário egoísta que sacrificará as chances de seu moribundo partido ir ao segundo turno para manter-se em evidência até onde for possível. A candidatura Lula será impugnada, não resta a menor dúvida. Ao invés de assimilar a realidade e começar desde cedo um trabalho de transferência de votos, o partido prefere postergar essa ação ao máximo para manter aceso o discurso de vitimizacão do condenado. Perderá semanas importantes com o espetáculo circense e talvez a chance de tornar a candidatura Haddad competitiva. O eleitorado de baixa renda e pouca instrução que diz votar em peso no presidiário é leal a ele, e não ao PT.

Álvaro Dias é um candidato regional, nanico fora do Sul. Dono de uma longa história parlamentar, foi um dos mais combativos senadores de oposição na era petista e não tem escândalos de corrupção para chamar de seu. Terá pouca exposição e sem gerar paixões, pois trata-se de um político que abraça a racionalidade, não tem à sua disposição um séquito de seguidores virtuais, como Bolsonaro, nem o ‘recall’ de Marina, obtido em duas eleições presidenciais. Será difícil esboçar crescimento para além do atual patamar de 5%.

O maior beneficiário da candidatura Henrique Meirelles é Geraldo Alckmin, que evitará a pecha de governista, a ser atribuída ao candidato do MDB. Se o apoio do radioativo Michel Temer já equivaleria ao abraço da morte em um candidato popular, imagine o que ele representa para alguém com 1% das intenções de voto? Seu maior trunfo, uma possível recuperação da economia, não vingou. A seu favor a capilaridade nacional do MDB, o que será insuficiente. Me pergunto o que faz alguém tão experimentado e com senso crítico entrar em uma empreitada sem a mínima chance de sucesso.

A quantidade de votos brancos e nulos, aliada a um índice de abstenção que deve ser o maior da história, são componentes ainda não decifrados pelos analistas e que podem influenciar o resultado das eleições. Em que medida? Não sabemos.

Sob o mantra de fazer dos limões uma limonada, é realista afirmar que ela será das mais amargas. Depois do pior quadriênio de sua história, período em que terá sua economia reduzida em 5% e a renda per capita em quase 10%, o Brasil conseguiu produzir esses cinco candidatos com chances de assumir sua liderança em um período de dificílimas batalhas em várias frentes. Mais pobre e cético, o brasileiro, normalmente otimista, manifesta a ciência de que dias piores virão. A solução passaria pela renovação completa do Congresso, mas aí seria esperar por um milagre.

2 Comments
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2 Comentários

  1. Jaime Enkim

    6 de agosto de 2018 em 15:03

    Excelente! JR GUZZO que se cuide! Parabéns, bela análise.

    1. Victor

      11 de agosto de 2018 em 22:05

      Obrigado, Jaime!

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