A ‘treta’ da semana

O Brasil é um país racista, disso já sabemos. Aquele racismo cordial, velado, não percebido à primeira vista. Sobre o tema, já escrevi no artigo ‘Racismo à brasileira’, publicado nesse blog em Novembro /2017. A conscientização sobre esse problema tem aumentado bastante nos últimos tempos.

Na semana que passou, uma festa de aniversário mostrou que o ambiente atual é hostil à qualquer situação que lembre o racismo. Ao comemorar seus 50 anos com temática baiana em Salvador, a então diretora da Revista Vogue, Donata Meirelles, tirou fotos cercadas de mulheres negras em trajes típicos. Em uma delas, aparecia sentada em uma grande poltrona, rodeada pelas baianas, em pé.

A foto viralizou nas redes sociais e serviu como exemplo de imagem que fazia apologia à escravidão, a aniversariante experimentou críticas furiosas que culminaram com sua demissão na revista, algumas das mulheres que fizeram o papel de baianas típicas também foram atacadas nas redes sociais, acusadas de servilismo, e chegaram a dar queixa na delegacia, e a Vogue cancelou seu famoso baile de pré Carnaval, tamanha foi a repercussão negativa do evento.

Claramente a foto foi infeliz e seria previsível que sua divulgação pudesse causar barulho. Vários exemplos similares a precederam em tempos onde o politicamente correto não poupa reputações. Publicá-la foi um grotesco erro de avaliação.

Alguém desavisado que estivesse pelas bandas de cá na semana passada pensaria que o Brasil é um exemplo de equidade racial, tamanho o ruído que a foto causou. Seria desmentido pela realidade. Pena que a mesma intensidade dos insultos virtuais não é canalizada como energia para proporcionar melhores oportunidades à população negra, amplamente prejudicada em qualquer indicador social.

Entretanto, também considero injusto uma pessoa ser crucificada por um erro de um instante. Não conhecemos a trajetória de 50 anos da aniversariante para julgá-la e tampouco uma foto é suficiente para condená-la. Aliás, é provável que o tal cenário e a foto, causadores das criticas, também fossem desprovidos de intenção racista. Uma festa típica baiana sem as próprias seria equivalente às festas juninas sem ‘caipiras’. Ocorre que a percepção de quem vê muitas vezes é mais importante que as intenções de quem mostra…

Infelizmente, vivemos na era dos lacradores. É fácil eleger uma foto desse tipo e fazer textão para bombar nas redes sociais, difícil é sustentar um permanente estado de alerta contra uma situação que deveria ser o real motivo de revolta: a insignificante quantidade de negros como convidados na tal festa. Eles não estavam lá, assim como não são frequentadores usuais de ambientes elitizados. Isso sim é grave e merece vigilância diária.

O Brasil será um país melhor e menos racista quando a retórica das redes sociais se transformar em prática cotidiana, de tal maneira que um dia, negros tenham acesso às mesmas oportunidades que brancos e não sejam alvo de preconceitos. Ainda é uma utopia…

1 Comment
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1 comentário

  1. Sonia Maria Pedrosa Silva Cury

    20 de fevereiro de 2019 em 11:56

    Também achei um exagero…. Casada com um baiano, Nizan Guanais, ela não seria capaz de ofendê-lo. Mais grave foi mentir a idade. Ela tem muito mais de 50, basta ver as fotos…. Além do que, ela é quem é há muitos e muitos anos.
    sonia

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